O relógio de bolso, por José Luiz Ricchetti

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25.1-O-relógio-de-bolso O relógio de bolso, por José Luiz Ricchetti

Pelo menos três vezes por semana, no final da tarde, meu tio avô costumava ir ao seu sítio, que ficava bem próximo da cidade.

Eu adorava acompanhá-lo nessas idas e vindas ao sítio porque além de ter o saudável contato com as coisas do campo, esses pequenos passeios de ida e volta sempre me traziam grandes aprendizados.

Acho que já mencionei em outras crônicas o quanto este meu tio avô foi importante para despertar em mim o meu amor pela cultura, pela arte e pelos livros e o quanto aprendi com ele.

Hoje alguns fatos que ocorreram em um grupo de trabalho social me fizeram lembrar de uma dessas histórias que ele, um dia, me contou.

“A escola onde ele estudava, costumava encerrar o ano letivo com um espetáculo teatral. Ele adorava aquilo, porém, até pela idade, nunca fora convidado a participar, o que lhe trazia uma grande frustração.

Quando ele, com 14 ou 15 anos, estava no último ano daquele ciclo escolar os organizadores lhe avisaram, que ele ia ter um papel de destaque para representar.

Ele então ficou muito feliz, mas a alegria durou pouco porque no final eles acabaram escolhendo um outro colega seu para o papel e coube a ele apenas uma pequena ponta, de pouca importância, na peça.

Sua decepção foi enorme e ele voltou para casa muito chateado e triste. Sua Mãe quis saber o que tinha acontecido e ele então lhe contou todo o ocorrido com o projeto teatral.

Sem nada dizer sua Mãe foi ao quarto e trouxe o relógio de bolso do seu papai e colocou-o em suas mãos, dizendo:

– Que é que você está vendo?

– Um relógio de ouro, com mostrador e ponteiros.

Em seguida, sua Mãe, abriu a parte de traz do relógio e repetiu a pergunta:

– E agora, o que está vendo?

– Uma quantidade enorme de pequenas engrenagens e parafusos.

Sua Mãe então lhe disse:

– Este relógio, tão necessário e tão bonito, seria absolutamente inútil se nele faltasse qualquer parte, mesmo a mais insignificante das engrenagens ou o menor dos parafusos. ”

Hoje relembrando daquela passagem, que sinceramente nem sei dizer a vocês se realmente teria acontecido com ele, eu percebo, e que para mim é o mais importante, que meu tio avô quis apenas que eu aprendesse algumas importantes lições:

Não interessa se somos um simples parafuso ou uma pequena engrenagem, desde que o trabalho, em conjunto, seja para o bem de todos.

Quando o nosso esforço faz um projeto alcançar o sucesso o que menos importa são os aplausos exteriores. O que vale mesmo é a paz de espírito do dever cumprido.

E finalmente eu aprendi que ser humilde não quer dizer ser menos que alguém, mas definitivamente é saber que não somos mais que ninguém.

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Pelo menos três vezes por semana, no final da tarde, meu tio avô costumava ir ao seu sítio, que ficava bem próximo da cidade.

Eu adorava acompanhá-lo nessas idas e vindas ao sítio porque além de ter o saudável contato com as coisas do campo, esses pequenos passeios de ida e volta sempre me traziam grandes aprendizados.

Acho que já mencionei em outras crônicas o quanto este meu tio avô foi importante para despertar em mim o meu amor pela cultura, pela arte e pelos livros e o quanto aprendi com ele.

Hoje alguns fatos que ocorreram em um grupo de trabalho social me fizeram lembrar de uma dessas histórias que ele, um dia, me contou.

“A escola onde ele estudava, costumava encerrar o ano letivo com um espetáculo teatral. Ele adorava aquilo, porém, até pela idade, nunca fora convidado a participar, o que lhe trazia uma grande frustração.

Quando ele, com 14 ou 15 anos, estava no último ano daquele ciclo escolar os organizadores lhe avisaram, que ele ia ter um papel de destaque para representar.

Ele então ficou muito feliz, mas a alegria durou pouco porque no final eles acabaram escolhendo um outro colega seu para o papel e coube a ele apenas uma pequena ponta, de pouca importância, na peça.

Sua decepção foi enorme e ele voltou para casa muito chateado e triste. Sua Mãe quis saber o que tinha acontecido e ele então lhe contou todo o ocorrido com o projeto teatral.

Sem nada dizer sua Mãe foi ao quarto e trouxe o relógio de bolso do seu papai e colocou-o em suas mãos, dizendo:

– Que é que você está vendo?

– Um relógio de ouro, com mostrador e ponteiros.

Em seguida, sua Mãe, abriu a parte de traz do relógio e repetiu a pergunta:

– E agora, o que está vendo?

– Uma quantidade enorme de pequenas engrenagens e parafusos.

Sua Mãe então lhe disse:

– Este relógio, tão necessário e tão bonito, seria absolutamente inútil se nele faltasse qualquer parte, mesmo a mais insignificante das engrenagens ou o menor dos parafusos. ”

Hoje relembrando daquela passagem, que sinceramente nem sei dizer a vocês se realmente teria acontecido com ele, eu percebo, e que para mim é o mais importante, que meu tio avô quis apenas que eu aprendesse algumas importantes lições:

Não interessa se somos um simples parafuso ou uma pequena engrenagem, desde que o trabalho, em conjunto, seja para o bem de todos.

Quando o nosso esforço faz um projeto alcançar o sucesso o que menos importa são os aplausos exteriores. O que vale mesmo é a paz de espírito do dever cumprido.

E finalmente eu aprendi que ser humilde não quer dizer ser menos que alguém, mas definitivamente é saber que não somos mais que ninguém.

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