
Era uma segunda-feira qualquer. Mas o café estava quente, o pensamento leve e o silêncio, inteiro. E isso, nos tempos de agora, vale mais que barras de ouro, que cobertura de frente pro mar, que carro de luxo com nome em alemão ou sueco.
Descobri – não sei se tarde, mas ao menos descobri – que o luxo verdadeiro não tem vitrine, nem parcelamento em doze vezes. Ele anda descalço pelos quintais da alma, cochila ao som de um ventilador antigo e conversa baixo com o tempo.
Pensar claramente virou privilégio. No meio de tantas vozes, telas e notificações, encontrar um pensamento limpo, lavado de urgências e ruídos, é como achar flor nascendo no asfalto – exige olhar atento e coração desacelerado.
Dormir profundamente também virou raridade. Não aquele sono que se mede em horas, mas aquele que apaga as dores do dia, que embala o corpo como colo de mãe e devolve a gente inteira, no amanhecer seguinte. Esse sono não se compra com remédio, mas com paz.
Mover-se lentamente, então, parece quase um ato de rebeldia. O mundo quer pressa, mas o corpo quer tempo. Caminhar sem destino, sem aplicativo que diga a direção, apenas sentindo o passo e o chão, é como voltar a conversar com a própria existência.
E viver silenciosamente… ah, esse é o ápice do luxo. Silêncio, hoje, é lugar sagrado. Não o silêncio desconfortável da ausência, mas o que nasce da presença absoluta. O silêncio que acolhe, que acalma, que cura. Um luxo silencioso que nenhum rico ou bilionário exibe, mas todo sábio busca.
Num mundo feito para gritar, correr e competir, quem ainda consegue pensar devagar, dormir em paz, andar sem medo e calar com elegância, é rei, rainha ou simplesmente, humano.
E talvez, meu amigo, seja esse o maior luxo: continuar sendo humano quando o mundo inteiro tenta nos transformar em máquina.
José Luiz Ricchetti
07/04/2025