
O mar brilha como se guardasse segredos em suas águas. O vento sopra forte, levando consigo histórias que ecoam nas paredes do tempo. Sentado no terraço sinto a melodia que se eleva, atravessa o oceano e se mistura ao cheiro de sal e de saudade.
Não é apenas um canto de adeus, mas um retrato do coração que pulsa entre notas e palavras. A imagem daquele último abraço, ali mesmo naquele mesmo terraço, quando tentei segurar o tempo, ressurge como uma onda solitária, que encontra a praia e a sinto como que a escorrer pelos dedos, como areia fina.
No meio daquele mar, vejo as pequenas luzes no horizonte a dançarem como estrelas caídas, refletindo nossas lembranças de noites agora também distantes. Em cada lâmpada de barco, há a memória desse amor vivido, do seu olhar que se perdeu entre as ondas ou se escondeu nas areias. Ouço ao fundo um piano que parece conversar comigo, mas que logo se cala, por um instante, como se respeitasse a grandeza do meu silêncio, mas logo a melodia ressurge, desenhando na brisa a dor e a beleza do existir.
Vejo a lua emergir da nuvem, e imagino o reflexo dos seus olhos verdes naquele mar de mesmo matiz e percebo agora, que carrego mais que o mundo dentro de mim. E quando uma lágrima me escapa, é como se meu segredo fosse revelado. Meu lamento, como a canção, passa a ser não apenas para uma paixão que se foi, mas uma homenagem a todos que amaram, perderam e encontraram numa simples melodia o seu refúgio.
O poder do amor não está no que pode ser visto, mas no que pode ser sentido. A vida é um palco, e com um pouco de gesto e expressão, podemos até nos transformar numa outra pessoa. Mas, quando olhos contracenam com verdades, não há um só personagem que resista, não há uma só palavra que se sustente. Então a canção do amor vivido vem para romper as amarras, dissolver o sangue nas veias e fazer com que aquele instante de saudades se transforme na eternidade.
A música da saudade nos ajuda a atravessar o tempo, se transforma em uma corrente, vira onda, vira mar, vira oceano. E agora, toda vez que o vento sopra forte sobre o terraço, ainda ouço a mesma melodia da saudade, sussurrando ao coração que ainda sabe escutar: ‘Te amo tanto…’