MEU PRIMEIRO LIVRO – PAÇO A PASSO CAPÍTULO XI – MINHA PRIMEIRA NAMORADA

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cabeca-ricchetti MEU PRIMEIRO LIVRO - PAÇO A PASSO CAPÍTULO XI - MINHA PRIMEIRA NAMORADA

O nosso Ford aterrissa agora bem em frente ao Instituto de Educação de São Manuel. Mais uma vez essa máquina do tempo, me confirma que todas essas viagens no tempo e no espaço acontecem em torno da minha adolescência.

É mais um dia de aula que termina no Instituto de Educação Manuel José Chaves. Olho aquela turma de estudantes saindo em grupos, todos nos seus uniformes.

229.1-Minha-primeira-namorada MEU PRIMEIRO LIVRO - PAÇO A PASSO CAPÍTULO XI - MINHA PRIMEIRA NAMORADA

Os meninos de calça comprida e as meninas com saia plissada, ambos na cor azul marinho e complementado pela camisa branca com o emblema na frente do bolso, contendo as letras SM, o curso, por exemplo Ginásio e o número de listras representando o ano em que estávamos, por exemplo quatro listas para a quarta série.

Observo aquela turma saindo e identifico entre todos, a minha primeira namorada. A emoção me toma de surpresa, pois poder voltar no tempo e revê-la ali na saída da escola com seus 14 anos, não tinha preço. Era muita emoção!

Sem pensar muito, eu abro o porta luvas, encontro um bloquinho de papel e um conjunto de lápis e borracha, dentro de um daqueles pequenos estojos de lata da “Faber Castell”, inexplicavelmente esquecidos ali. Com minhas mãos trêmulas escrevo rapidamente um poema, que também estava esquecido e perdido num cantinho do meu coração:

“A você, que foi a minha primeira namorada.
Não me lembro como tudo começou, talvez na troca de um olhar, num simples sorriso ou encostar de braços, mas você estava lá, do nada virou minha primeira namorada.
Agora gostaria de me aproximar e lhe dizer que já gostava de você antes mesmo de lhe conhecer.
Agora queria vê-la falar, queria ficar em rubor, mesmo que seja só por um comentário bobo sobre a matéria ou professor.
Agora queria tremer e suar frio novamente quando você chegasse perto, falasse, sorrisse e mesmo sem pegar na mão, sem dizer nada, mesmo que ficasse muda, calada.
Agora queria namorar escondido, na esquina, a dois quarteirões de sua casa, longe da vista do pai, bravo e ciumento, o mesmo que nunca quer ver ninguém, perto da filha se aproximar.
Agora queria lhe comprar balas de hortelã e chuparmos juntos, naquele banco do coreto, perto do vai e vem, no jardim da cidade, mesmo que fosse num dia com o ar frio da manhã.
Agora queria ir à sessão do cinema, pegar na sua mão, ali no escurinho, talvez mesmo só para ver seu olhar, seu sorriso doce e maroto e lhe abraçar.
Agora queria encontrá-la bem perto da escola, ver seu sorriso, seus cabelos compridos, e ficar ali fazendo hora, segurando seus livros, esperando a sirene tocar.
Agora queria tomar um vermute doce, antes de lhe tirar para dançar, na brincadeira de domingo no clube, sair de mãos dadas e passear no jardim e depois, vindo a noite nos reencontramos para comermos juntos um “bauru”, num reservado de um bar.
Agora queria vê-la na missa das dez, queria estar lá, junto no coro da igreja, ali no mesmo altar só para vê-la cantar.
Agora queria ver aquele seu olhar, vê-la cochichar com a melhor amiga, me olhando de canto e cruzando com o seu olhar.
Agora queria receber o correio elegante, no baile ou na quermesse, sem saber se é seu, mas já com a certeza, quando quem traz o bilhete, meia sem jeito, é a sua amiga do peito.
Agora queria tomar quentão, mesmo sem ter idade, comer pipoca, dançar quadrilha, tudo junto e misturado na quermesse da cidade.
Agora queria sair no mesmo bloco de carnaval, vestindo quase igual, dançar e cantar ‘Cachaça não é água não…’ e ver quanto riso, quanta alegria e te beijar agora, sem levar a mal, pois é carnaval.
Agora queria ter ciúmes, ao ver você olhar de lado, flertando com outro, que também quer ser seu namorado.
Agora queria trabalhar na véspera do Corpus Christi, naquele frio da madrugada, enrolados no mesmo cobertor, sentados no chão e tomando um copo de quentão, passado de mão em mão.
Agora queria vê-la de véu branco, acompanhando a procissão, na semana da paixão, de vela acesa na mão.
Agora queria sair da piscina do clube, carregando sua toalha enrolada, comprar pipoca, morder um quebra queixo ou até comer junto aquela geleia de colorido embaçado.
Agora queria correr com você, debaixo de chuva, ficarmos molhados, e mantermos o nosso tempo parado, tomando um bom sorvete gelado.
Agora queria mandar flores no dia do seu aniversário, estar lá, cantar parabéns, receber o primeiro pedaço de bolo e esperar ansioso nossos amigos gritarem com quem será, sem ter adversário.
Agora queria compartilhar com você minhas músicas, queria tocá-las no violão e depois deitado na minha cama, queria chorar, ao ouvir no rádio a nossa canção.
Agora queria ver você passar de ano, ser a melhor aluna, queria receber sua cola e ver você torcer para mim no time da escola.
Agora queria receber suas cartas nas férias de verão, queria dedicatória em cartão, queria ver as suas capas de caderno, com o nosso nome gravado dentro de um coração.
Agora hoje, neste exato momento, queria ver a minha vida parar, queria voltar no tempo e dizer hoje, como foi gostoso te amar.”

O velho Ford, parece não entender a importância desse meu momento e acende o painel, liga o motor, que rateia um pouco, talvez pigarreando, para me dizer, à sua maneira, que iremos ter que partir em alguns minutos….
É o tempo que preciso!

Saio correndo do carro, chego, bem perto, por atrás daquela linda garota, a minha primeira namorada, que agora caminha pela calçada, distraída, de volta para casa.

Então disfarçadamente, sem que ela perceba, jogo dentro da sua bolsa entreaberta o pequeno papel dobrado, com aquele meu poema, que gostaria de ter escrito, muitos e muitos anos atrás….

Volto correndo para o carro, que vai partir em segundos. Enquanto ele se prepara para alçar voo, de longe, ainda consigo ver, talvez como um pressentimento, ela remexer a bolsa até achar o meu bilhete com o poema.
Ela então, com seu rosto curioso, pega o pequeno papel, desdobra e lê rapidamente….

Continuo olhando e vejo ela enxugar com as mãos as lágrimas que saem dos olhos… enquanto, ao mesmo tempo ela olha, meio que desesperada, por todos os lados, como que procurando o autor daquela poesia, ou quem sabe procurando o atual namorado.

É melhor não saber….

Este meu carro do tempo arranca de vez, mas antes que ele penetre nos céus, e me leve para mais uma aventura no tempo, minha memória me brinda com um último verso, mais que verdadeiro, não meu, mas do fantástico Vinicius de Moraes:

“Que eu possa sempre dizer do amor que tive, que ele não seja imortal, posto que é chama, mas que seja sempre infinito enquanto dure.”

MEU PRIMEIRO LIVRO – PAÇO A PASSO CAPÍTULO XI – MINHA PRIMEIRA NAMORADA

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O nosso Ford aterrissa agora bem em frente ao Instituto de Educação de São Manuel. Mais uma vez essa máquina do tempo, me confirma que todas essas viagens no tempo e no espaço acontecem em torno da minha adolescência.

É mais um dia de aula que termina no Instituto de Educação Manuel José Chaves. Olho aquela turma de estudantes saindo em grupos, todos nos seus uniformes.

229.1-Minha-primeira-namorada MEU PRIMEIRO LIVRO - PAÇO A PASSO CAPÍTULO XI - MINHA PRIMEIRA NAMORADA

Os meninos de calça comprida e as meninas com saia plissada, ambos na cor azul marinho e complementado pela camisa branca com o emblema na frente do bolso, contendo as letras SM, o curso, por exemplo Ginásio e o número de listras representando o ano em que estávamos, por exemplo quatro listas para a quarta série.

Observo aquela turma saindo e identifico entre todos, a minha primeira namorada. A emoção me toma de surpresa, pois poder voltar no tempo e revê-la ali na saída da escola com seus 14 anos, não tinha preço. Era muita emoção!

Sem pensar muito, eu abro o porta luvas, encontro um bloquinho de papel e um conjunto de lápis e borracha, dentro de um daqueles pequenos estojos de lata da “Faber Castell”, inexplicavelmente esquecidos ali. Com minhas mãos trêmulas escrevo rapidamente um poema, que também estava esquecido e perdido num cantinho do meu coração:

“A você, que foi a minha primeira namorada.
Não me lembro como tudo começou, talvez na troca de um olhar, num simples sorriso ou encostar de braços, mas você estava lá, do nada virou minha primeira namorada.
Agora gostaria de me aproximar e lhe dizer que já gostava de você antes mesmo de lhe conhecer.
Agora queria vê-la falar, queria ficar em rubor, mesmo que seja só por um comentário bobo sobre a matéria ou professor.
Agora queria tremer e suar frio novamente quando você chegasse perto, falasse, sorrisse e mesmo sem pegar na mão, sem dizer nada, mesmo que ficasse muda, calada.
Agora queria namorar escondido, na esquina, a dois quarteirões de sua casa, longe da vista do pai, bravo e ciumento, o mesmo que nunca quer ver ninguém, perto da filha se aproximar.
Agora queria lhe comprar balas de hortelã e chuparmos juntos, naquele banco do coreto, perto do vai e vem, no jardim da cidade, mesmo que fosse num dia com o ar frio da manhã.
Agora queria ir à sessão do cinema, pegar na sua mão, ali no escurinho, talvez mesmo só para ver seu olhar, seu sorriso doce e maroto e lhe abraçar.
Agora queria encontrá-la bem perto da escola, ver seu sorriso, seus cabelos compridos, e ficar ali fazendo hora, segurando seus livros, esperando a sirene tocar.
Agora queria tomar um vermute doce, antes de lhe tirar para dançar, na brincadeira de domingo no clube, sair de mãos dadas e passear no jardim e depois, vindo a noite nos reencontramos para comermos juntos um “bauru”, num reservado de um bar.
Agora queria vê-la na missa das dez, queria estar lá, junto no coro da igreja, ali no mesmo altar só para vê-la cantar.
Agora queria ver aquele seu olhar, vê-la cochichar com a melhor amiga, me olhando de canto e cruzando com o seu olhar.
Agora queria receber o correio elegante, no baile ou na quermesse, sem saber se é seu, mas já com a certeza, quando quem traz o bilhete, meia sem jeito, é a sua amiga do peito.
Agora queria tomar quentão, mesmo sem ter idade, comer pipoca, dançar quadrilha, tudo junto e misturado na quermesse da cidade.
Agora queria sair no mesmo bloco de carnaval, vestindo quase igual, dançar e cantar ‘Cachaça não é água não…’ e ver quanto riso, quanta alegria e te beijar agora, sem levar a mal, pois é carnaval.
Agora queria ter ciúmes, ao ver você olhar de lado, flertando com outro, que também quer ser seu namorado.
Agora queria trabalhar na véspera do Corpus Christi, naquele frio da madrugada, enrolados no mesmo cobertor, sentados no chão e tomando um copo de quentão, passado de mão em mão.
Agora queria vê-la de véu branco, acompanhando a procissão, na semana da paixão, de vela acesa na mão.
Agora queria sair da piscina do clube, carregando sua toalha enrolada, comprar pipoca, morder um quebra queixo ou até comer junto aquela geleia de colorido embaçado.
Agora queria correr com você, debaixo de chuva, ficarmos molhados, e mantermos o nosso tempo parado, tomando um bom sorvete gelado.
Agora queria mandar flores no dia do seu aniversário, estar lá, cantar parabéns, receber o primeiro pedaço de bolo e esperar ansioso nossos amigos gritarem com quem será, sem ter adversário.
Agora queria compartilhar com você minhas músicas, queria tocá-las no violão e depois deitado na minha cama, queria chorar, ao ouvir no rádio a nossa canção.
Agora queria ver você passar de ano, ser a melhor aluna, queria receber sua cola e ver você torcer para mim no time da escola.
Agora queria receber suas cartas nas férias de verão, queria dedicatória em cartão, queria ver as suas capas de caderno, com o nosso nome gravado dentro de um coração.
Agora hoje, neste exato momento, queria ver a minha vida parar, queria voltar no tempo e dizer hoje, como foi gostoso te amar.”

O velho Ford, parece não entender a importância desse meu momento e acende o painel, liga o motor, que rateia um pouco, talvez pigarreando, para me dizer, à sua maneira, que iremos ter que partir em alguns minutos….
É o tempo que preciso!

Saio correndo do carro, chego, bem perto, por atrás daquela linda garota, a minha primeira namorada, que agora caminha pela calçada, distraída, de volta para casa.

Então disfarçadamente, sem que ela perceba, jogo dentro da sua bolsa entreaberta o pequeno papel dobrado, com aquele meu poema, que gostaria de ter escrito, muitos e muitos anos atrás….

Volto correndo para o carro, que vai partir em segundos. Enquanto ele se prepara para alçar voo, de longe, ainda consigo ver, talvez como um pressentimento, ela remexer a bolsa até achar o meu bilhete com o poema.
Ela então, com seu rosto curioso, pega o pequeno papel, desdobra e lê rapidamente….

Continuo olhando e vejo ela enxugar com as mãos as lágrimas que saem dos olhos… enquanto, ao mesmo tempo ela olha, meio que desesperada, por todos os lados, como que procurando o autor daquela poesia, ou quem sabe procurando o atual namorado.

É melhor não saber….

Este meu carro do tempo arranca de vez, mas antes que ele penetre nos céus, e me leve para mais uma aventura no tempo, minha memória me brinda com um último verso, mais que verdadeiro, não meu, mas do fantástico Vinicius de Moraes:

“Que eu possa sempre dizer do amor que tive, que ele não seja imortal, posto que é chama, mas que seja sempre infinito enquanto dure.”

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