(Texto criado e escrito por José Luiz Ricchetti)
Talvez somente alguns de vocês saibam que sou engenheiro mecânico por formação e que trabalhei no início da minha carreira num grande Grupo Industrial que entre tantos outros produtos fabricava também motores para navios.
Só muito depois, após ter me tornado um executivo e empresário e ter minhas próprias empresas é que, após me aposentar, é que me dediquei a escrever meus textos e livros.
De qualquer modo sempre soube dar a mim mesmo o devido valor e jamais me deixei ser menosprezado por quem quer que seja, durante os mais de 45 anos de profissão.
É sempre importante sabermos nos valorizar e não deixar que pessoas de espírito fraco se aproveitem do nosso trabalho. Quem sabe se valorizar não desvaloriza ninguém, mas o sem valor não valoriza ninguém.
Além de fabricar motores de navio a empresa fazia também toda a manutenção dos motores, inclusive enviando mecânicos diretamente aos navios, estivessem eles em alto mar ou então atracado em algum porto pelo mundo.
Me lembro de um caso particular, quando gerenciava o setor de motores, em que o motor principal de um navio enorme, atracado no porto de Santos, havia travado e a empresa de navegação já tinha acionado uma equipe do fabricante do motor, mas eles não tinham conseguido consertá-lo.
O motor em questão não era da mesma tecnologia dos que produzíamos, mas devido a urgência e a dificuldades em consertá-lo a empresa proprietária do navio decidiu nos solicitar ajuda para tentar dar um fim àquele grande problema, que lhes estava ocasionando prejuízos diários pelos altos custos de permanência no porto.
Assim enviamos nossa melhor equipe, chefiada por um grande profissional, engenheiro mecânico com mais de 40 anos de experiência em motores de navios.
Como era um problema sério e que geraria grande repercussão eu decidi acompanhar os trabalhos.
Assim que a nossa equipe inspecionou o motor com muito cuidado, de cima a baixo, o nosso engenheiro chefe descarregou sua bolsa de ferramentas e puxou um pequeno martelo e uma chave de boca. Então, em seguida bateu no entorno do motor em vários pontos estratégicos de modo suave, escutando atentamente o som produzido, para depois com a chave de boca reajustar algumas válvulas girando alguns parafusos. Assim que terminou, pediu que dessem a partida no motor. Logo que acionaram o botão de partida, o motor começou a girar lentamente até que deu um grande estalo e voltou a funcionar.
O motor havia sido consertado!
Alguns dias depois enviamos, via e-mail, a fatura com o nosso custo total de U$ 20.000 para o contratante.
Alguns minutos depois recebi um telefonema do gerente da empresa proprietária do navio:
– U$ 20.000 dólares? Questionou o gerente
– Estão loucos?
– Vocês não fizeram quase nada!
Levaram nem 50 minutos para consertar e nem chegaram a desmontar nada!
– Quero que me enviem uma conta detalhada! Argumentou, gritando mais uma vez, o tal gerente.
Então, calmamente preparei um e-mail onde escrevi os detalhes daquela conta de conserto do motor:
“Prezados Senhores,
Vimos por meio deste apresentar a descrição e preços de cada etapa do serviço no motor:
– Batida com martelo: U$ 2
– Apertos com chave de boca U$ 8
– Saber onde bater e onde apertar U$ 19.990
– Total U$ 20.000
Se fazemos um trabalho em 50 minutos, é porque passamos muitos anos aprendendo como fazê-lo em 50 minutos.
Vocês nos devem pelos anos de aprendizado e não pelos minutos de trabalho.
Nossa empresa se considera competentes e está há mais de 50 anos no mercado, exatamente porque darmos a devida importância aos nossos colaboradores e sabemos valorizar os seus conhecimentos e experiência. Todo o nosso aprendizado é resultado de muito trabalho, muita luta, muita experiência e por que não dizer de muito esforço e até lágrimas.
Atenciosamente”
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Passados dois dias recebemos os U$ 20.000 sem maiores questionamentos.
Aquele simples fato sedimentou ainda mais em mim a grade lição:
Nunca se venda barato! Cada dia de trabalho nos custa um dia de vida.
Não podemos forçar ninguém a nos valorizar, mas devemos refutar sempre todos aqueles que quiserem nos desvalorizar.