COLUNA DO RICCHETTI – Curta é a vida, longa a paixão

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Tudo começou quando te vi pela primeira vez …

Olhei de lado e lá estava você, toda pelada. Olhei pra mim e… bom, digamos que eu também estava no modo “ao natural”. Mas calma, antes que a moralidade desmaie: eram camas separadas! Quando criei coragem pra dizer “eu te amo”, percebi um vidro na frente e um monte de gente me encarando com cara de “Ownn”. Fiquei com vergonha… Era o berçário. Fazer o quê?

O destino resolveu pregar outra peça no Grupo Escolar. Lá estávamos, lado a lado, nas clássicas carteiras de madeira com aquele buraco misterioso (que, descobri depois, era pra tinteiro e não pra enfiar o dedo). Quis te passar um bilhete romântico, mas o cupido de quinta categoria do lado pegou o papel e te entregou antes. Você sorriu. Eu? Dei um soco no intrometido. Resultado: fui parar na diretoria. Amor bandido, literalmente.

Chegou a adolescência, aquela fase em que o cérebro tira férias e deixa os hormônios no comando. Brincadeiras, festinhas, dança de rosto colado, e aquele medo terrível de te tirar pra dançar. Na sua festa de quinze anos, respirei fundo, pronto pra soltar um glorioso “Eu te amo” …, mas o que saiu foi um silêncio mortal e uma mancha nas calças que não era exatamente de suor. Afoguei a vergonha em cuba libre e acordei com seu pai me sacudindo:

– Ei, menino! A festa acabou. E pare de beijar essa almofada, pelo amor de Deus!

Ah, o amor e suas cicatrizes! Quantas árvores do Jardim e da frente da Matriz não sofreram com minhas declarações esculpidas? Até que o jardineiro me pegou no flagra:

– Sai daqui moleque safado! Vai gravar na bunda da sua mãe!

Quando achei que o fundo do poço tinha música clássica, pedi pra um amigo muito talentoso em português escrever um poema pra você. Ele fez tão bem que ganhou o concurso da escola. Você? Admirou o jovem poeta. Eu? Fiquei vermelho de inveja e ainda bati palmas na cerimônia, como um idiota aplaudindo a própria desgraça.

Mas o guerreiro não desiste. Escrevi, ou melhor, pichei um pedaço daquele poema no muro da sua casa. Resultado? Ganhei bolhas na mão de tanto pintar o muro de novo quando seu pai me pegou em flagrante. E ainda levei bronca em casa – um clássico “apanhei na ida e na volta”.

Decidi que era hora da virada: organizei uma serenata com os amigos. Passamos no bar do João pra dar aquela “esquentada”. O problema? Esquentamos tanto que, na hora H, mal conseguimos ficar de pé, quem dirá cantar. Um show inesquecível… de fiasco.

Muitos anos se passaram, mas a paixão continuou firme – teimosa que só ela. Te reencontrei numa tarde bonita, o sol se pondo, pássaros cantando, tudo digno de um filme romântico de sessão da tarde. Tirei do bolso aquele velho poema premiado (amarelado, rasgado e com cheiro de naftalina) e finalmente declamei, cheio de emoção.

Você me olhou, serena:

– Hein? O que você disse? Tô surda, meu filho!

Lá veio a enfermeira do asilo, pronta pra nos levar pra cama.

Dessa vez, não nus – de pijamas.

Curta é a vida, longa é a paixão… E às vezes, hilária também.

José Luiz Ricchetti – 21/02/25

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Tudo começou quando te vi pela primeira vez …

Olhei de lado e lá estava você, toda pelada. Olhei pra mim e… bom, digamos que eu também estava no modo “ao natural”. Mas calma, antes que a moralidade desmaie: eram camas separadas! Quando criei coragem pra dizer “eu te amo”, percebi um vidro na frente e um monte de gente me encarando com cara de “Ownn”. Fiquei com vergonha… Era o berçário. Fazer o quê?

O destino resolveu pregar outra peça no Grupo Escolar. Lá estávamos, lado a lado, nas clássicas carteiras de madeira com aquele buraco misterioso (que, descobri depois, era pra tinteiro e não pra enfiar o dedo). Quis te passar um bilhete romântico, mas o cupido de quinta categoria do lado pegou o papel e te entregou antes. Você sorriu. Eu? Dei um soco no intrometido. Resultado: fui parar na diretoria. Amor bandido, literalmente.

Chegou a adolescência, aquela fase em que o cérebro tira férias e deixa os hormônios no comando. Brincadeiras, festinhas, dança de rosto colado, e aquele medo terrível de te tirar pra dançar. Na sua festa de quinze anos, respirei fundo, pronto pra soltar um glorioso “Eu te amo” …, mas o que saiu foi um silêncio mortal e uma mancha nas calças que não era exatamente de suor. Afoguei a vergonha em cuba libre e acordei com seu pai me sacudindo:

– Ei, menino! A festa acabou. E pare de beijar essa almofada, pelo amor de Deus!

Ah, o amor e suas cicatrizes! Quantas árvores do Jardim e da frente da Matriz não sofreram com minhas declarações esculpidas? Até que o jardineiro me pegou no flagra:

– Sai daqui moleque safado! Vai gravar na bunda da sua mãe!

Quando achei que o fundo do poço tinha música clássica, pedi pra um amigo muito talentoso em português escrever um poema pra você. Ele fez tão bem que ganhou o concurso da escola. Você? Admirou o jovem poeta. Eu? Fiquei vermelho de inveja e ainda bati palmas na cerimônia, como um idiota aplaudindo a própria desgraça.

Mas o guerreiro não desiste. Escrevi, ou melhor, pichei um pedaço daquele poema no muro da sua casa. Resultado? Ganhei bolhas na mão de tanto pintar o muro de novo quando seu pai me pegou em flagrante. E ainda levei bronca em casa – um clássico “apanhei na ida e na volta”.

Decidi que era hora da virada: organizei uma serenata com os amigos. Passamos no bar do João pra dar aquela “esquentada”. O problema? Esquentamos tanto que, na hora H, mal conseguimos ficar de pé, quem dirá cantar. Um show inesquecível… de fiasco.

Muitos anos se passaram, mas a paixão continuou firme – teimosa que só ela. Te reencontrei numa tarde bonita, o sol se pondo, pássaros cantando, tudo digno de um filme romântico de sessão da tarde. Tirei do bolso aquele velho poema premiado (amarelado, rasgado e com cheiro de naftalina) e finalmente declamei, cheio de emoção.

Você me olhou, serena:

– Hein? O que você disse? Tô surda, meu filho!

Lá veio a enfermeira do asilo, pronta pra nos levar pra cama.

Dessa vez, não nus – de pijamas.

Curta é a vida, longa é a paixão… E às vezes, hilária também.

José Luiz Ricchetti – 21/02/25

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