Com o passar dos anos, descobri que o tempo é um escultor invisível. Ele trabalha em silêncio, talhando nossas feições, polindo nossas memórias e moldando a essência do que somos.
À medida que os dias se acumulam, percebo que minha visão, embora já não tão precisa de perto, tornou-se mais nítida para o que realmente importa. Ouvindo menos ao longe, escuto com mais profundidade o que vem de dentro.
Caminho com passos mais lentos, porém com um propósito maior – cada passada ressoa em sincronia com o compasso do meu viver.
Amar-me tornou-se uma revolução silenciosa. O arrependimento perdeu espaço para a aceitação. Afinal, as imperfeições da vida, assim como as de uma cerâmica feita à mão, é que dão valor à peça.
Os amigos, aqueles que restaram, são joias raras lapidadas pelo tempo. A convivência com eles é como degustar um vinho envelhecido: o sabor é mais intenso, as palavras são menos necessárias.
A vida tornou-se um exercício de delicadeza – saborear o café quente logo pela manhã, ouvir o vento balançando as folhas das árvores, ouvir o canto dos pássaros, sentir o calor do sol no rosto sem pressa de voltar para a sombra.
O espelho, que antes tinha o poder de medir minha autoestima, agora me faz sorrir. Cada ruga é uma cicatriz de um sorriso ou de uma lágrima que valeu a pena. O reflexo não importa mais do que o olhar que sustenta quem sou.
Com o tempo, compreendi que a vida é breve demais para ser vivida com medo. Aprendi que desacelerar não é sinal de fraqueza, mas de sabedoria. Viver é dar-se o direito de aceitar as marcas do tempo como parte da obra inacabada que somos.
E assim, caminho, sabendo que o mais valioso não é o que deixo para trás, mas o que carrego comigo: as histórias, os risos, as mãos entrelaçadas, os beijos, os abraços e também os momentos em que chorei.
Enfim, aprendi que viver é, no fundo, transformar cada dia em um poema, onde o verso principal somos nós mesmos.
José Luiz Ricchetti