Ah… Paranhos. Só a menção deste nome já traz um sopro de nostalgia, como se um trem invisível passasse pelos trilhos da memória, carregando cenas e sorrisos que o tempo tenta apagar, mas falha. Lá estava o Sr. Cação, sempre com seu jeito acolhedor, sua presença firme e calorosa que parecia abraçar a todos que chegavam. E, claro, Ana Cação, minha querida amiga, que tinha no sorriso o brilho de quem vive a vida como se cada dia fosse uma festa.
A jornada até Paranhos era uma aventura em si. Descíamos do trem na estação, uma turma de amigos e amigas que sabia, sem palavras, que o dia seria especial. Estávamos ali para viver uma época em que as coisas eram simples, mas intensas, como os amores de juventude que não exigem muito além de uma música na vitrola e um copo de Martini Doce.
Ah, a vitrola! Aquele ritual sagrado de escolher o disco certo, ajustá-lo com cuidado e esperar o som inconfundível de Roberto Carlos encher o ambiente. Cada nota era uma promessa de uma lembrança eterna, cada canção se tornava a trilha sonora de uma nova dança, de uma nova conversa, de um novo sorriso. A música era nossa cúmplice, ela guiava nossos passos e despertava em nós uma liberdade que só a juventude conhece.
E as brincadeiras dançantes… Como explicar o encanto disso? Dançávamos sem preocupações, com a leveza de quem não teme o amanhã. O Martini Doce passava de mão em mão, e cada gole parecia aumentar ainda mais nossa coragem e alegria. Era o doce gosto de ser jovem, de pertencer a um grupo, de viver um momento que, mal sabíamos, seria tão difícil de replicar.
Hoje, quando penso em Paranhos, sinto um aperto suave, uma saudade de uma simplicidade que o tempo levou. As danças, as conversas, os risos – tudo isso ficou gravado em mim, como uma fotografia amarelada que, mesmo desbotada, não perde seu valor. Paranhos, o Sr. Cação, minha amiga Ana e aquela turma de amigos continuam vivos dentro de mim, lembranças de uma época em que éramos donos do mundo – mesmo que esse mundo fosse apenas um salão, uma vitrola e um punhado de risadas ao som de Roberto Carlos.
José Luiz Ricchetti – 31/10/24