As eleições municipais de São Manuel em 2024 foram marcadas por uma série de divisões e desarticulações políticas que culminaram na vitória de Odirlei Baixinho (PP), eleito com 30,07% dos votos válidos. O resultado reflete um cenário de fragmentação que se desenhou ao longo dos últimos dois anos, enfraquecendo tanto a situação quanto uma possível terceira via.
O primeiro abalo na estrutura política local começou o ano passado, quando começava-se a desenhar as possibilidades de sucessão do prefeito Ricardo Salaro. Em março deste ano, ocorreu a ruptura de um forte grupo que era a situação, quando João Paulo, então parte do grupo situacionista, assim como o diretor de comunicação Tony Forti, romperam com o governo do prefeito Ricardo Salaro. A cisão foi motivada por discordâncias em relação a decisões unilaterais do prefeito quanto a sucessão.
“A saída de João Paulo, Tony e fortes nomes do legislativo foi um ponto de virada na política local. Abriu-se uma brecha para uma nova configuração de forças”, analisa um observador político local que preferiu não se identificar.
Este movimento inicialmente deu origem a uma promissora terceira via, que incluía João Paulo, Hionita Peres, Tony Forti, Gê Pupo e outros potenciais candidatos ao legislativo. A expectativa era de que esta aliança pudesse oferecer uma alternativa viável tanto à situação quanto à oposição representada por Odirlei Baixinho.
No entanto, o que poderia ter sido uma força política unificada logo se desfez. Desentendimentos internos levaram à ruptura entre João Paulo e Hionita Peres, com cada um optando por lançar candidaturas independentes. Gê Pupo desanimou da política e continuou como secretário de esportes em Botucatu. Esta decisão fragmentou ainda mais o cenário político, dividindo votos que poderiam ter sido decisivos para um resultado diferente.
“A falta de consenso entre as lideranças da terceira via foi crucial para o desfecho que vimos nas urnas. O EGO dos candidatos elegeu Baixinho. Hionita entendia que só uma mulher podia tirar os votos da Marcia e João Paulo não aceitava outro cargo que não fosse o de prefeito”, comentaram pessoas que acompanharam as movimentações políticas.
O resultado final da eleição reflete claramente esta divisão. Enquanto Odirlei Baixinho conquistou a prefeitura com 6.323 votos, a soma dos votos de seus três principais adversários chegou a 14.706 – mais que o dobro. Márcia Oliveira ficou em segundo lugar com 6.256 votos, seguida de perto por Hionita Peres com 6.200, e João Paulo com 2.250.
A fragmentação do campo opositor a Odirlei Baixinho foi determinante para sua vitória. Muitos eleitores apostavam no “voto útil” para impedir sua eleição, mas a falta de consenso sobre quem seria o candidato mais viável para derrotá-lo acabou por favorecer sua candidatura.
“Se houvesse uma união em torno de um único nome, o resultado poderia ter sido muito diferente”, avalia um membro do diretório municipal de um dos partidos derrotados.
A eleição de Odirlei Baixinho como prefeito de São Manuel levanta questionamentos sobre possíveis cenários alternativos. Dois se destacam:
Se João Paulo não tivesse rompido com o governo:
- A candidatura de Márcia Oliveira (PSD) estaria mais fortalecida.
- Potencial soma de votos: cerca de 8.500 (6.256 de Márcia + 2.250 de João Paulo).
- Resultado provável: vitória da situação sobre Odirlei Baixinho.
Se a terceira via tivesse se concretizado:
- União entre João Paulo e Hionita Peres.
- Potencial soma de votos: 8.450 (2.250 de João Paulo + 6.200 de Hionita).
- Resultado provável: vitória da terceira via, superando Odirlei Baixinho.
O cenário pós-eleição em São Manuel serve como um alerta para outras cidades sobre a importância da união e do diálogo na política local. A fragmentação excessiva pode levar a resultados inesperados e, potencialmente, não representativos da vontade da maioria.
Enquanto a cidade se prepara para uma nova administração, fica a lição de que, na política, a capacidade de construir consensos e alianças pode ser tão importante quanto as propostas individuais de cada candidato.
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