Era uma tarde tranquila em São Manuel, minha pequena cidade do interior que guardava em suas ruas estreitas e casas antigas segredos e histórias de uma época em que a riqueza do café parecia se desdobrar lentamente. Aquela década de 60 pintava o meu cenário com tons nostálgicos, e foi nesse cenário que encontrei uma garota que, por um breve momento, se tornou o centro de uma crônica em meu coração.
Caminhando pelas ruas de paralelepípedo e casas centenárias, onde o tempo parecia ter deixado suas marcas suaves, avistei uma figura graciosa que parecia dançar entre as sombras das fachadas antigas. Seu traje curto de menina e cabelos esvoaçantes traziam à tona a beleza simples e autêntica da juventude daquela época.
Ao me aproximar, pude perceber o brilho curioso em seus olhos, cheios de vivacidade e curiosidade pelo mundo que se desdobrava diante dela. Seu nome, quando pronunciado, ressoava como uma melodia suave enquanto ela compartilhava histórias de suas aventuras diárias naquela nossa pequena cidade natal.
Com seu jeito encantador, descreveu as brincadeiras inocentes na praça da Matriz, onde crianças corriam livremente e o tempo parecia desacelerar. Suas memórias se entrelaçavam com o som distante de músicas tocadas em vitrolas, onde as notas suaves de bossa nova embalavam os encontros românticos nas festinhas de fim de semana nas garagens e as vezes nas brincadeiras e bailes no Clube Recreativo.
Nossos passos nos guiaram até a sorveteria do ‘Chiquinho’, onde ela compartilhou histórias de paixões adolescentes e suspiros trocados entre os bancos do jardim. As tardes de domingo eram preenchidas com a dança lenta no coreto da praça, enquanto a cidade parecia pulsar com a energia da juventude que se descobria.
No entardecer da nossa jornada improvisada, ela revelou sonhos de um futuro que se desenhava como um horizonte distante. Ela ansiava por explorar o mundo além das fronteiras da nossa pequena cidade, mas ao mesmo tempo, guardava um carinho especial pelo colégio que frequentou, por cada rua, cada esquina que testemunhou sua jornada até ali.
Ela seguiu sua vida em busca de seus sonhos e ao nos despedirmos, o crepúsculo tingia o céu com tons de laranja e rosa, refletindo a nostalgia que pairava no ar. Aquela garota se perdeu entre as ruas, levando consigo as lembranças e sonhos da minha São Manuel dos anos 60, deixando-me com a gratidão de ter compartilhado, por um breve momento, o encanto de uma época que agora vive eternizada em uma crônica como esta…
José Luiz Ricchetti – 29/01/24