Na minha pequena cidade natal São Manuel, em uma casa simples, os dias se desenrolavam ao ritmo tranquilo das agulhas de uma bordadeira local muito habilidosa, vizinha e muito amiga de minha mãe.
Todos os dias, ali no chão brincando ao seu lado, um pequeno curioso, filho dessa artífice de tecidos e histórias, contemplava o ritual diário da mãe com olhos cheios de indagações.
A pergunta era sempre a mesma: – Mãe, o que a senhora está fazendo?
E a resposta, sempre serena, ecoava pelos dias como um mantra: “Estou bordando, meu filho.”
No seu mundo infantil, olhando de baixo, o trabalho materno parecia um intricado enigma de fios entrelaçados, nós indecifráveis e cores que se misturavam como em um sonho. Alguns fios escuros, outros claros, uma dança caótica de formas ainda por nascer. Era um quadro de confusão aos olhos curiosos do menino.
- Por que esses fios são assim, mãe? – Por que não têm forma definida?
- Por que alguns são tão escuros?”
Indagava o menino, lançando sua curiosidade como linhas soltas, esperando serem entrelaçadas pelas mãos sábias da bordadeira.
A resposta materna, paciente como a passagem do tempo, convidava-o a brincar, prometendo que, quando o trabalho se completasse, lhe mostraria o bordado de uma perspectiva diferente.
Anos depois, o convite se materializou. Sentado no colo materno, o filho mergulhou no universo de formas reveladas. O que antes parecia caos, do ponto de vista de cima, transformou-se em uma paisagem de beleza inigualável. O bordado da vida, uma obra-prima, agora se desvelava diante de seus olhos.
Tal como um grande escritor, que enlaça as palavras como fios de um texto encantador, a vida, vista de baixo, pode parecer um emaranhado de eventos desconexos. Mas, assim como o bordado de uma mãe sábia, há um desenho celestial sendo traçado, cada nó e cada fio contribuindo para a beleza única de nossa existência.
Nas linhas da vida, Deus sempre tece uma narrativa, onde as aparentes confusões e desordens se entrelaçam para criar um quadro que só podemos compreender quando nos sentamos em seu colo.
Assim, em meio a nós e desenhos celestiais, continuamos a tecer nossa jornada, confiantes de que, ao final, veremos o plano divino em toda a sua magnificência.
José Luiz Ricchetti – 21/01/24