O BEBEDOURO DA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA

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cabeca-ricchetti O BEBEDOURO DA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA

(Crônica criada e escrita por José Luiz Ricchetti)

Na aurora de um novo dia, quando o primeiro raio de sol acariciava os campos de café, São Manuel despertava. Os carroceiros, figuras emblemáticas da época áurea do café, preparavam suas carroças para mais um dia de trabalho. O cheiro da terra úmida e o murmúrio das rodas de madeira sobre o chão de barro eram testemunhas silenciosas de uma rotina que sustentava a economia local.

image-25 O BEBEDOURO DA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA

A jornada dos carroceiros começava antes do canto do galo. As mãos calejadas amarravam firmemente os arreios dos burros, enquanto os olhos já experientes examinavam a carga de sacas de café, prontas para serem transportadas. Cada viagem até a estação ferroviária era uma dança entre o homem e a natureza, uma coreografia precisa onde cada movimento contava.

Ao longo do caminho, a paisagem de São Manuel revelava sua beleza singela. As árvores se inclinavam suavemente ao vento, como se reverenciassem os carroceiros que passavam. A estrada era familiar, mas cada dia trazia novos desafios – uma roda que emperrava, uma subida íngreme, uma tempestade repentina. Mas nada parecia abalar a determinação daqueles homens.

O destino era o bebedouro da estação ferroviária, um ponto de encontro não apenas para os carroceiros, mas também para os trabalhadores da ferrovia, os saqueiros, os vendedores ambulantes e os curiosos que ali se reuniam. O bebedouro, com sua água fresca e cristalina, era um oásis no meio do tumulto, um lugar onde histórias eram compartilhadas e amizades eram forjadas.

A estação, com seu ritmo frenético de locomotivas que chegavam e partiam, era o coração pulsante da cidade. O café, ouro negro daquela era, aguardava seu destino nas entranhas dos vagões. Para os carroceiros, ver as sacas de café sendo carregadas no trem era um momento de triunfo silencioso. Cada grão de café ali representava o suor e a esperança de muitas famílias.

No bebedouro, enquanto os animais saciavam a sede, os carroceiros aproveitavam para descansar e trocar histórias. Havia sempre um novo conto sobre uma viagem difícil, uma anedota engraçada ou uma notícia da cidade. Era um momento de camaradagem, onde se esqueciam por breves instantes das adversidades da vida.

Lello Bonacordi, um dos antigos carroceiros, era conhecido por suas histórias. Com um brilho nos olhos e um sorriso no rosto, ele contava sobre os tempos em que a estrada era ainda mais árdua, mas a recompensa de ver o café ser embarcado era imensurável. Ele dizia que o bebedouro não era apenas um lugar para matar a sede, mas um ponto de ligação entre o passado e o presente, entre o esforço individual e o progresso coletivo.

As tardes em São Manuel tinham um encanto próprio. Quando o sol começava a se despedir no horizonte, tingindo o céu de laranja e púrpura, os carroceiros se preparavam para a volta. O trajeto de volta era mais leve, não só pelas carroças vazias, mas pelo sentimento de dever cumprido. Os olhos se voltavam para o céu, onde as estrelas começavam a surgir, como se guardassem as histórias daqueles homens incansáveis.

A estação ferroviária, com seu bebedouro, continuava a ser um símbolo de resistência e esperança. Era ali que os sonhos de muitas famílias começavam a ganhar forma, carregados pelas mãos calejadas dos carroceiros de São Manuel. E enquanto o mundo mudava ao redor, aquele pequeno pedaço de terra mantinha viva a essência de uma época em que cada viagem, cada sacrifício, contribuía para a construção de um futuro melhor.

Assim, os carroceiros de São Manuel, com suas carroças e histórias, testemunhadas por aquele velho bebedouro deixavam um legado de determinação e coragem, lembrando-nos que a verdadeira riqueza não está apenas no ouro negro do café, mas também nos laços humanos forjados ao longo do caminho.

José Luiz Ricchetti – 02/07/24

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(Crônica criada e escrita por José Luiz Ricchetti)

Na aurora de um novo dia, quando o primeiro raio de sol acariciava os campos de café, São Manuel despertava. Os carroceiros, figuras emblemáticas da época áurea do café, preparavam suas carroças para mais um dia de trabalho. O cheiro da terra úmida e o murmúrio das rodas de madeira sobre o chão de barro eram testemunhas silenciosas de uma rotina que sustentava a economia local.

image-25 O BEBEDOURO DA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA

A jornada dos carroceiros começava antes do canto do galo. As mãos calejadas amarravam firmemente os arreios dos burros, enquanto os olhos já experientes examinavam a carga de sacas de café, prontas para serem transportadas. Cada viagem até a estação ferroviária era uma dança entre o homem e a natureza, uma coreografia precisa onde cada movimento contava.

Ao longo do caminho, a paisagem de São Manuel revelava sua beleza singela. As árvores se inclinavam suavemente ao vento, como se reverenciassem os carroceiros que passavam. A estrada era familiar, mas cada dia trazia novos desafios – uma roda que emperrava, uma subida íngreme, uma tempestade repentina. Mas nada parecia abalar a determinação daqueles homens.

O destino era o bebedouro da estação ferroviária, um ponto de encontro não apenas para os carroceiros, mas também para os trabalhadores da ferrovia, os saqueiros, os vendedores ambulantes e os curiosos que ali se reuniam. O bebedouro, com sua água fresca e cristalina, era um oásis no meio do tumulto, um lugar onde histórias eram compartilhadas e amizades eram forjadas.

A estação, com seu ritmo frenético de locomotivas que chegavam e partiam, era o coração pulsante da cidade. O café, ouro negro daquela era, aguardava seu destino nas entranhas dos vagões. Para os carroceiros, ver as sacas de café sendo carregadas no trem era um momento de triunfo silencioso. Cada grão de café ali representava o suor e a esperança de muitas famílias.

No bebedouro, enquanto os animais saciavam a sede, os carroceiros aproveitavam para descansar e trocar histórias. Havia sempre um novo conto sobre uma viagem difícil, uma anedota engraçada ou uma notícia da cidade. Era um momento de camaradagem, onde se esqueciam por breves instantes das adversidades da vida.

Lello Bonacordi, um dos antigos carroceiros, era conhecido por suas histórias. Com um brilho nos olhos e um sorriso no rosto, ele contava sobre os tempos em que a estrada era ainda mais árdua, mas a recompensa de ver o café ser embarcado era imensurável. Ele dizia que o bebedouro não era apenas um lugar para matar a sede, mas um ponto de ligação entre o passado e o presente, entre o esforço individual e o progresso coletivo.

As tardes em São Manuel tinham um encanto próprio. Quando o sol começava a se despedir no horizonte, tingindo o céu de laranja e púrpura, os carroceiros se preparavam para a volta. O trajeto de volta era mais leve, não só pelas carroças vazias, mas pelo sentimento de dever cumprido. Os olhos se voltavam para o céu, onde as estrelas começavam a surgir, como se guardassem as histórias daqueles homens incansáveis.

A estação ferroviária, com seu bebedouro, continuava a ser um símbolo de resistência e esperança. Era ali que os sonhos de muitas famílias começavam a ganhar forma, carregados pelas mãos calejadas dos carroceiros de São Manuel. E enquanto o mundo mudava ao redor, aquele pequeno pedaço de terra mantinha viva a essência de uma época em que cada viagem, cada sacrifício, contribuía para a construção de um futuro melhor.

Assim, os carroceiros de São Manuel, com suas carroças e histórias, testemunhadas por aquele velho bebedouro deixavam um legado de determinação e coragem, lembrando-nos que a verdadeira riqueza não está apenas no ouro negro do café, mas também nos laços humanos forjados ao longo do caminho.

José Luiz Ricchetti – 02/07/24

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