ÚLTIMO CAPÍTULO – XVII – LIVRO PAÇO A PASSO – O ÚLTIMO VOO

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cabeca-ricchetti ÚLTIMO CAPÍTULO - XVII – LIVRO PAÇO A PASSO - O ÚLTIMO VOO

Prezados amigos e conterrâneos, chegamos ao fim deste meu livro e espero que tenham gostado. Quis dar a vocês são-manuelenses e demais amigos este presente publicando aqui semanalmente cada um dos capítulos deste livro sobre a minha e porque não a nossa adolescência em São Manuel.

Espero que tenham gostado e aqui vai o último capítulo.

CAPÍTULO XVII – LIVRO PAÇO A PASSO – O ÚLTIMO VOO

image ÚLTIMO CAPÍTULO - XVII – LIVRO PAÇO A PASSO - O ÚLTIMO VOO

Depois das inúmeras dificuldades para levantar voo e sair da São Manuel de 1912, o Ford assume novamente sozinho o controle e a minha angústia só aumentava, pois não havia conseguido reprogramar o relógio para 2019 e estava sem nenhum controle sobre o voo.

Será que ele vai me devolver para o futuro?

Depois de uns vinte minutos de voo, ouço um grande barulho, como que se fosse uma batida de carro. Sinto que tudo treme, balança, chacoalha, inclusive o meu próprio corpo. Será que estamos caindo?

O nervoso toma conta, o suor escorre frio pelo rosto, meu corpo treme, e minhas pernas ficam bambas…Será que vou morrer?

De repente todo aquele barulho cessa e aquele tremor parece que desaparece, mas é substituído por um enorme baque e um estrondo absurdo, até que tudo fica em silêncio.

Aqueles segundos, sem poder olhar pela janela e ver alguma coisa, pareciam uma eternidade… Quando, consigo, novamente dar por mim, procuro me apalpar e ver se não estou machucado, se não quebrei nada, se estou vivo.

Em seguida sinto uma luz forte, que parece ser a luz do sol, fustigando meu rosto, me cegando a vista de tal maneira, que mal consigo abrir os olhos….

Vou aos poucos, bem devagar, tentando abrir as pálpebras e lentamente começo a olhar à minha volta e no meu entorno….

Reconheço o lugar e percebo que estou num velho banco de um carro, uma direção antiga, um velho painel…. Instintivamente procuro pelo relógio digital com suas luzes de aviso, nas cores amarela, vermelha, verde, mas, só consigo ver um painel normal de carro, analógico, bem antigo, que se parece muito com o painel daqueles carros da Ford.

Olho pela janela e vejo muita fumaça ou o que parece ser uma serração, não sei…. – Terei tido um acidente? Onde estou?

Os pensamentos começam a fluir aos poucos, meu corpo ainda está formigando, minhas pernas pesadas, a mente cansada, esgotada até…

Devagar vou tentando recuperar a consciência e entender onde estou e o que está acontecendo. Começo a sentir muito frio…. Depois de vários minutos assim, sem saber o que tinha ocorrido e completamente zonzo, as coisas começam a se clarear.

Aí me recordo de Campos do Jordão, da exposição de carros, do velho senhor lustrando o Ford 46, do meu bisavô, meus amigos de infância, os carnavais, o jornal, a banda, a serenata, o relógio do paço, a festa de arromba, minha cidade natal… Os buracos de minhoca… As viagens no tempo!

Meu Deus! De repente tudo vem à tona de uma só vez! Minha mente está um mar revolto de coisas confusas e que não parecem ter qualquer nexo!

Começo a sentir mais frio ainda, seguido inexplicavelmente por um suor frio que escorre pelo meu rosto.

A primeira coisa que me ocorre é a de que deveria ter sofrido um acidente e morrido! Me belisco, olho para mim de novo, me apalpo, procurando um ferimento ou outra coisa qualquer que me desse algum indício… Nada!

Olho pela janela novamente e agora consigo reconhecer através do vidro, meio embaçado, aquele mesmo velho senhor de cabelos brancos, no trabalho de lustrar o capô do velho e restaurado Ford 1946.

Percebo então que estou dentro daquele Ford 46, sentado ao volante!

Me recomponho, olho outra vez o meu entorno e reconheço as ruas de Campos do Jordão, a praça Benedito Calisto, o centrinho de Capivari…

O velho senhor bate com os dedos na janela, eu desço o vidro devagar, olho para ele, ainda muito assustado, e pergunto:

– Onde estou?

O senhor me responde com naturalidade:

– Ué, está em Campos do Jordão, dentro do meu Ford!

– Você não me pediu para se sentar aí no volante? E aí, gostou do carro?

Mais assustado ainda, olho de novo para ele e depois mais uma vez para mim mesmo, para meu corpo, tentando me reencontrar comigo mesmo. Abro a porta do carro, saio bem devagar e coloco o meu primeiro pé no chão, coloco o segundo pé, ainda ressabiado e confuso com tudo aquilo….

Voltam à minha mente as inúmeras lembranças e aquelas misturas de imagens, sons e acontecimentos no espaço e no tempo.

Outras coisas me vêm rapidamente à cabeça: Sílvio Santos, a primeira namorada, o Tiro de Guerra, Paço municipal, Coreto, Banda, Dream Team, Sorvete do Chiquinho, Peladas, Festa da Aparecida….

– O que teria me acontecido?

– Seriam as nuvens do tempo?

– Uma volta ao passado? Um sonho?

– Um portal do tempo?

Ou talvez aquele Ford tivesse desencadeado uma conexão com os tais “Buracos de Minhoca de Einstein e Rosen” e eu tinha feito uma viagem pelo espaço e pelo tempo? Será que tinha entrado num daqueles seis mundos descritos por Helena Blavatsky?

Todas essas dúvidas ainda estavam ali presentes comigo, mas o importante é que tinha a certeza de que todas aquelas incríveis lembranças vividas naquelas viagens no tempo, verdadeiras ou não, estavam agora todas ali vivas e bem guardadas na minha memória.

Me despeço e agradeço ao simpático senhor, pela oportunidade de me sentar ao volante daquele Ford 1946, com a certeza de que estava de volta ao futuro.

O frio volta a apertar, fecho a minha jaqueta, ajeito meu gorro na cabeça, envolvo o pescoço com o cachecol e cruzo a Praça Benedito Calixto na Vila de Capivari em Campos do Jordão, em direção ao meu hotel.

Enquanto atravesso a praça, minha memória, acredito que para fixar mais uma vez, todas aquelas maravilhosas aventuras pelo tempo e pelo espaço, me traz de presente, os lindos versos do poema de Mario Quintana, ‘O Tempo:

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são seis horas!

Quando se vê, já é sexta-feira!

Quando se vê, já é natal…

Quando se vê, já terminou o ano…

Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.

Quando se vê passaram 50 anos!

Agora é tarde demais para ser reprovado…

Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.

Seguiria sempre em frente,

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…

********************   FIM   *******************

ÚLTIMO CAPÍTULO – XVII – LIVRO PAÇO A PASSO – O ÚLTIMO VOO

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Prezados amigos e conterrâneos, chegamos ao fim deste meu livro e espero que tenham gostado. Quis dar a vocês são-manuelenses e demais amigos este presente publicando aqui semanalmente cada um dos capítulos deste livro sobre a minha e porque não a nossa adolescência em São Manuel.

Espero que tenham gostado e aqui vai o último capítulo.

CAPÍTULO XVII – LIVRO PAÇO A PASSO – O ÚLTIMO VOO

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Depois das inúmeras dificuldades para levantar voo e sair da São Manuel de 1912, o Ford assume novamente sozinho o controle e a minha angústia só aumentava, pois não havia conseguido reprogramar o relógio para 2019 e estava sem nenhum controle sobre o voo.

Será que ele vai me devolver para o futuro?

Depois de uns vinte minutos de voo, ouço um grande barulho, como que se fosse uma batida de carro. Sinto que tudo treme, balança, chacoalha, inclusive o meu próprio corpo. Será que estamos caindo?

O nervoso toma conta, o suor escorre frio pelo rosto, meu corpo treme, e minhas pernas ficam bambas…Será que vou morrer?

De repente todo aquele barulho cessa e aquele tremor parece que desaparece, mas é substituído por um enorme baque e um estrondo absurdo, até que tudo fica em silêncio.

Aqueles segundos, sem poder olhar pela janela e ver alguma coisa, pareciam uma eternidade… Quando, consigo, novamente dar por mim, procuro me apalpar e ver se não estou machucado, se não quebrei nada, se estou vivo.

Em seguida sinto uma luz forte, que parece ser a luz do sol, fustigando meu rosto, me cegando a vista de tal maneira, que mal consigo abrir os olhos….

Vou aos poucos, bem devagar, tentando abrir as pálpebras e lentamente começo a olhar à minha volta e no meu entorno….

Reconheço o lugar e percebo que estou num velho banco de um carro, uma direção antiga, um velho painel…. Instintivamente procuro pelo relógio digital com suas luzes de aviso, nas cores amarela, vermelha, verde, mas, só consigo ver um painel normal de carro, analógico, bem antigo, que se parece muito com o painel daqueles carros da Ford.

Olho pela janela e vejo muita fumaça ou o que parece ser uma serração, não sei…. – Terei tido um acidente? Onde estou?

Os pensamentos começam a fluir aos poucos, meu corpo ainda está formigando, minhas pernas pesadas, a mente cansada, esgotada até…

Devagar vou tentando recuperar a consciência e entender onde estou e o que está acontecendo. Começo a sentir muito frio…. Depois de vários minutos assim, sem saber o que tinha ocorrido e completamente zonzo, as coisas começam a se clarear.

Aí me recordo de Campos do Jordão, da exposição de carros, do velho senhor lustrando o Ford 46, do meu bisavô, meus amigos de infância, os carnavais, o jornal, a banda, a serenata, o relógio do paço, a festa de arromba, minha cidade natal… Os buracos de minhoca… As viagens no tempo!

Meu Deus! De repente tudo vem à tona de uma só vez! Minha mente está um mar revolto de coisas confusas e que não parecem ter qualquer nexo!

Começo a sentir mais frio ainda, seguido inexplicavelmente por um suor frio que escorre pelo meu rosto.

A primeira coisa que me ocorre é a de que deveria ter sofrido um acidente e morrido! Me belisco, olho para mim de novo, me apalpo, procurando um ferimento ou outra coisa qualquer que me desse algum indício… Nada!

Olho pela janela novamente e agora consigo reconhecer através do vidro, meio embaçado, aquele mesmo velho senhor de cabelos brancos, no trabalho de lustrar o capô do velho e restaurado Ford 1946.

Percebo então que estou dentro daquele Ford 46, sentado ao volante!

Me recomponho, olho outra vez o meu entorno e reconheço as ruas de Campos do Jordão, a praça Benedito Calisto, o centrinho de Capivari…

O velho senhor bate com os dedos na janela, eu desço o vidro devagar, olho para ele, ainda muito assustado, e pergunto:

– Onde estou?

O senhor me responde com naturalidade:

– Ué, está em Campos do Jordão, dentro do meu Ford!

– Você não me pediu para se sentar aí no volante? E aí, gostou do carro?

Mais assustado ainda, olho de novo para ele e depois mais uma vez para mim mesmo, para meu corpo, tentando me reencontrar comigo mesmo. Abro a porta do carro, saio bem devagar e coloco o meu primeiro pé no chão, coloco o segundo pé, ainda ressabiado e confuso com tudo aquilo….

Voltam à minha mente as inúmeras lembranças e aquelas misturas de imagens, sons e acontecimentos no espaço e no tempo.

Outras coisas me vêm rapidamente à cabeça: Sílvio Santos, a primeira namorada, o Tiro de Guerra, Paço municipal, Coreto, Banda, Dream Team, Sorvete do Chiquinho, Peladas, Festa da Aparecida….

– O que teria me acontecido?

– Seriam as nuvens do tempo?

– Uma volta ao passado? Um sonho?

– Um portal do tempo?

Ou talvez aquele Ford tivesse desencadeado uma conexão com os tais “Buracos de Minhoca de Einstein e Rosen” e eu tinha feito uma viagem pelo espaço e pelo tempo? Será que tinha entrado num daqueles seis mundos descritos por Helena Blavatsky?

Todas essas dúvidas ainda estavam ali presentes comigo, mas o importante é que tinha a certeza de que todas aquelas incríveis lembranças vividas naquelas viagens no tempo, verdadeiras ou não, estavam agora todas ali vivas e bem guardadas na minha memória.

Me despeço e agradeço ao simpático senhor, pela oportunidade de me sentar ao volante daquele Ford 1946, com a certeza de que estava de volta ao futuro.

O frio volta a apertar, fecho a minha jaqueta, ajeito meu gorro na cabeça, envolvo o pescoço com o cachecol e cruzo a Praça Benedito Calixto na Vila de Capivari em Campos do Jordão, em direção ao meu hotel.

Enquanto atravesso a praça, minha memória, acredito que para fixar mais uma vez, todas aquelas maravilhosas aventuras pelo tempo e pelo espaço, me traz de presente, os lindos versos do poema de Mario Quintana, ‘O Tempo:

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são seis horas!

Quando se vê, já é sexta-feira!

Quando se vê, já é natal…

Quando se vê, já terminou o ano…

Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.

Quando se vê passaram 50 anos!

Agora é tarde demais para ser reprovado…

Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.

Seguiria sempre em frente,

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…

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