CRÔNICA: O MEU ANJO DA GUARDA

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cabeca-ricchetti CRÔNICA: O MEU ANJO DA GUARDA

Por muitos anos eu fazia, junto com vários amigos, um trabalho de ajuda aos nossos irmãos necessitados que vivem na rua.

Assim todos os sábados, nos reuníamos na casa de um casal de amigos e preparávamos uma pequena cesta com as coisas mais necessárias como arroz, feijão, leite, açúcar, café etc. além de um saquinho com sanduíches e frutas acompanhado de um litro de chá.

205.1-Anjo-da-Guarda1-683x1024 CRÔNICA: O MEU ANJO DA GUARDA
Fonte: depositphotos

Tínhamos um roteiro que abrangia praticamente toda a zona sul da capital paulista e um cadastro detalhado com todos os moradores, que na sua maioria viviam embaixo dos viadutos.

Havia famílias inteiras, algumas com filhos, mas também homens, mulheres, adolescentes sozinhos e as vezes até crianças pequenas sem pais.

Um desses viadutos era na confluência da Vicente Rao com a Av. Vereador José Diniz, onde havia várias famílias e essa mistura de homens, mulheres e crianças abandonadas…

Uma dessas crianças era uma menininha loirinha, muito linda e esperta que devia ter uns 4 ou 5 anos. Ela era filha de um casal de viciados em crack e quase sempre, quando chegávamos, ela estava por ali correndo e brincando, enquanto os pais permaneciam estirados em algum canto, completamente drogados.

Por uma dessas ironias da vida, quem acabava cuidando e educando a pequena garota era um sujeito, o líder daquela pequena comunidade, fugitivo da penitenciária. Apesar dessa ficha suja, esse sujeito era importante para aquelas pessoas e mais ainda para a pequena garota.

Ele nos respeitava muito e ninguém ousava fazer qualquer coisa sem o seu consentimento. Por tudo isso é que nós fechávamos os olhos para a sua vida pregressa, pois sabíamos da sua importância para a sobrevivência de todos que viviam ali naquele viaduto.

A menina estava sempre descalça, meia suja é verdade, mas sempre com uma alegria que contagiava a todos. Se ela não estivesse correndo e brincando estava sentada em volta da pequena fogueira, que eles sempre mantinham acesa, fazendo ninar a sua suja boneca de plástico, sem uma das pernas…

Numa dessas vezes eu estava muito triste e chateado, com várias coisas que tinham me acontecido durante a semana, que quase não fui fazer o trabalho no sábado.

Apesar disso, acabei indo…

Logo depois de distribuir a cesta e os lanches a todos que ali estavam, senti alguém puxar a lateral das minhas calças como que querendo me chamar a atenção. Era a garotinha…

Meio sem graça, sorri e procurei esconder a minha tristeza…

Ela então me disse “oi” e me fixou intensamente nos olhos.

Sorri timidamente e ela sorriu de volta.

Perguntei por que ela estava me olhando assim.

Ela se virou para mim e disse:

— Estou aqui, sabe? Se quiser a gente pode conversar, brincar, rir, fazer mil coisas. Você não precisa me contar o que aconteceu ou porque você está triste. Só me deixe tentar colocar um sorriso no seu rosto.

Espantado com o que tinha ouvido daquela garotinha de apenas 4 ou 5 anos eu respondi:

— Meu Deus você é uma menina muito especial.

Ela olhou para mim, sorriu novamente, levantou-se e disse:

— Verdade?

— Sim, você parece um anjo que veio aqui para me fazer sorrir !

Ela assentiu com a cabeça, abriu as asas e piscando os olhos falou:

— Sim, mas não sou um anjo qualquer!

Assustado, certo de que aquilo era uma visão, me levantei e antes que ela desaparecesse gritei:

— Ei espere!

— Por que então ninguém mais viu você?

— Porque sou o seu anjo da guarda e só você pode me ver.

E desapareceu…

Quando você estiver triste e achar que está completamente só, lembre-se, o seu anjo da guarda está sempre com você, para lhe fazer sorrir novamente.

O meu estava…

José Luiz Ricchetti – 07/07/2022

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Por muitos anos eu fazia, junto com vários amigos, um trabalho de ajuda aos nossos irmãos necessitados que vivem na rua.

Assim todos os sábados, nos reuníamos na casa de um casal de amigos e preparávamos uma pequena cesta com as coisas mais necessárias como arroz, feijão, leite, açúcar, café etc. além de um saquinho com sanduíches e frutas acompanhado de um litro de chá.

205.1-Anjo-da-Guarda1-683x1024 CRÔNICA: O MEU ANJO DA GUARDA
Fonte: depositphotos

Tínhamos um roteiro que abrangia praticamente toda a zona sul da capital paulista e um cadastro detalhado com todos os moradores, que na sua maioria viviam embaixo dos viadutos.

Havia famílias inteiras, algumas com filhos, mas também homens, mulheres, adolescentes sozinhos e as vezes até crianças pequenas sem pais.

Um desses viadutos era na confluência da Vicente Rao com a Av. Vereador José Diniz, onde havia várias famílias e essa mistura de homens, mulheres e crianças abandonadas…

Uma dessas crianças era uma menininha loirinha, muito linda e esperta que devia ter uns 4 ou 5 anos. Ela era filha de um casal de viciados em crack e quase sempre, quando chegávamos, ela estava por ali correndo e brincando, enquanto os pais permaneciam estirados em algum canto, completamente drogados.

Por uma dessas ironias da vida, quem acabava cuidando e educando a pequena garota era um sujeito, o líder daquela pequena comunidade, fugitivo da penitenciária. Apesar dessa ficha suja, esse sujeito era importante para aquelas pessoas e mais ainda para a pequena garota.

Ele nos respeitava muito e ninguém ousava fazer qualquer coisa sem o seu consentimento. Por tudo isso é que nós fechávamos os olhos para a sua vida pregressa, pois sabíamos da sua importância para a sobrevivência de todos que viviam ali naquele viaduto.

A menina estava sempre descalça, meia suja é verdade, mas sempre com uma alegria que contagiava a todos. Se ela não estivesse correndo e brincando estava sentada em volta da pequena fogueira, que eles sempre mantinham acesa, fazendo ninar a sua suja boneca de plástico, sem uma das pernas…

Numa dessas vezes eu estava muito triste e chateado, com várias coisas que tinham me acontecido durante a semana, que quase não fui fazer o trabalho no sábado.

Apesar disso, acabei indo…

Logo depois de distribuir a cesta e os lanches a todos que ali estavam, senti alguém puxar a lateral das minhas calças como que querendo me chamar a atenção. Era a garotinha…

Meio sem graça, sorri e procurei esconder a minha tristeza…

Ela então me disse “oi” e me fixou intensamente nos olhos.

Sorri timidamente e ela sorriu de volta.

Perguntei por que ela estava me olhando assim.

Ela se virou para mim e disse:

— Estou aqui, sabe? Se quiser a gente pode conversar, brincar, rir, fazer mil coisas. Você não precisa me contar o que aconteceu ou porque você está triste. Só me deixe tentar colocar um sorriso no seu rosto.

Espantado com o que tinha ouvido daquela garotinha de apenas 4 ou 5 anos eu respondi:

— Meu Deus você é uma menina muito especial.

Ela olhou para mim, sorriu novamente, levantou-se e disse:

— Verdade?

— Sim, você parece um anjo que veio aqui para me fazer sorrir !

Ela assentiu com a cabeça, abriu as asas e piscando os olhos falou:

— Sim, mas não sou um anjo qualquer!

Assustado, certo de que aquilo era uma visão, me levantei e antes que ela desaparecesse gritei:

— Ei espere!

— Por que então ninguém mais viu você?

— Porque sou o seu anjo da guarda e só você pode me ver.

E desapareceu…

Quando você estiver triste e achar que está completamente só, lembre-se, o seu anjo da guarda está sempre com você, para lhe fazer sorrir novamente.

O meu estava…

José Luiz Ricchetti – 07/07/2022

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