CRÔNICA: VOCÊ ESTÁ PERFEITA ESTA NOITE

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cabeca-ricchetti CRÔNICA: VOCÊ ESTÁ PERFEITA ESTA NOITE

Crônica criada e escrita por José Luiz Ricchetti

Era uma vez uma época em que as luzes do salão dançavam ao som de músicas que pareciam tecer histórias de amor, e as almas dos jovens se encontravam em passos sincronizados. Na São Manuel dos anos 60, os anos dourados, por exemplo, o baile no Clube Recreativo se tornou um marco na vida dos jovens, uma memória que ecoaria por décadas.

image-4 CRÔNICA: VOCÊ ESTÁ PERFEITA ESTA NOITE

Ao despertar numa dessas manhãs, com a simplicidade de um expresso, ali tranquilo na mesa do café, eu, hoje com meus bem vividos 70 anos, dei um clique aleatório no ‘spotify’ e, como num sussurro do destino, a voz de Ed Sheeran entoou um dos seus mais recentes sucessos:

“Amor, estou dançando no escuro
Com você entre meus braços…
Ouvindo nossa música favorita…”

Naquele instante, imediatamente fui transportado pelo portal do tempo e da melodia, retornando a uma São Manuel que já não existe mais. Era o ano de 1967, quando a vida se desdobrava em descobertas e emoções simples.

No momento me lembrei da minha primeira entrada no misterioso salão do Clube Recreativo, uma edificação majestosa que parecia uma testemunha do passado. Era um palacete em sua forma, adornado por janelas amplas que revelavam o interior como olhos curiosos.

Construído após a fundação do clube em 1889, era um testemunho do tempo e da tradição que o permeava. As janelas de vidro e madeira, algumas indo até o chão, eram um convite para o espetáculo dentro e fora.

As colunas imponentes sustentavam um telhado em forma de pirâmide quadrangular, coroado por um para-raios que dominava o topo. Enquanto um lustre de ferro fundido e vidro pendia do teto, iluminando o ambiente com um toque de nostalgia colonial.

Foi inevitável sentir novamente a mesma sensação ao entrar naquele salão, pela primeira vez, onde o piso de madeira brilhava como um espelho, refletindo sonhos e ansiedades. Cortinas de veludo vermelho emolduravam a cena, enquanto o palco era ocupado pela orquestra de Silvio Mazzuca, entoando melodias que pareciam uma trilha sonora para o coração.

Casais de rostos próximos se moviam na pista, dançando lentamente, com a esperança de encher cada centímetro do espaço com histórias e sentimentos. Eu estava lá de novo. Voltara no tempo, como aquele jovem de 15 anos, com um coração acelerado e as mãos trêmulas.

Meus amigos, como cúmplices dessa aventura, ocupavam mesas próximas. Logo encontrei abrigo, ao dar um gole de coragem, em um copo de cuba libre de um deles, para acalmar o enorme turbilhão dentro de mim.

Os meus olhos varreram o salão, e entre os rostos conhecidos, eu a avistei. Aquela linda garota com quem já havia trocado olhares na escola, cujo sorriso tinha o poder de dissolver minhas inseguranças.

O primeiro passo, a abordagem, foi como um mergulho na escuridão do desconhecido. As palavras, embora simples, foram portadoras de nervosismo. A pergunta: “Quer dançar comigo?” ecoou como um eco em meu peito, enquanto olhava para os pais que acompanhavam a cena.

Ela sorriu, o sinal verde que esperava. O alívio se misturou com o prazer da vitória, e meus passos a guiaram para o centro do salão. No fundo, a orquestra tocava “Besame Mucho,” como uma trilha sonora para a história que estava prestes a se desenrolar.

Enquanto nossos rostos se aproximavam e as mãos se tocavam, o universo parecia congelar. Os nossos olhos encontraram-se em uma dança própria, enquanto sambas-canção e boleros embalavam num ritmo desajeitado. O medo de pisar em seus pés e o desejo de não parecer um completo tolo eram minha batalha interna.

A noite se desdobrou como um sonho. O olhar nervoso cedeu lugar a um sorriso tímido, e as conversas sussurradas enriqueceram a conexão que se formava. Cada instante era um presente, e até aquele beijo roubado no rosto, único da noite, tornou-se um marco de emoções inexplicáveis.

A melodia de Ed Sheeran, já estava chegando ao fim e percebi que era hora daquele meu sonho terminar, o portal se fechar e eu voltar para esta nossa época em que os olhares são breves e as conexões efêmeras.

Mas aquela noite, aquele baile, permaneceu na memória como um fragmento dessa cápsula do tempo, uma lembrança imaculada em meio à esta correria da vida moderna.

E no último segundo, ainda tive tempo de fechar os olhos e ouvir os versos finais daquela linda música:

“Amor, estou dançando no escuro
Com você entre meus braços…
Ouvindo nossa música favorita
Quando você me disse que não se via tão bonita
Eu sussurrei bem baixinho…
Querida, você está perfeita esta noite…”

José Luiz Ricchetti – 18/03/2022

CRÔNICA: VOCÊ ESTÁ PERFEITA ESTA NOITE

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Crônica criada e escrita por José Luiz Ricchetti

Era uma vez uma época em que as luzes do salão dançavam ao som de músicas que pareciam tecer histórias de amor, e as almas dos jovens se encontravam em passos sincronizados. Na São Manuel dos anos 60, os anos dourados, por exemplo, o baile no Clube Recreativo se tornou um marco na vida dos jovens, uma memória que ecoaria por décadas.

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Ao despertar numa dessas manhãs, com a simplicidade de um expresso, ali tranquilo na mesa do café, eu, hoje com meus bem vividos 70 anos, dei um clique aleatório no ‘spotify’ e, como num sussurro do destino, a voz de Ed Sheeran entoou um dos seus mais recentes sucessos:

“Amor, estou dançando no escuro
Com você entre meus braços…
Ouvindo nossa música favorita…”

Naquele instante, imediatamente fui transportado pelo portal do tempo e da melodia, retornando a uma São Manuel que já não existe mais. Era o ano de 1967, quando a vida se desdobrava em descobertas e emoções simples.

No momento me lembrei da minha primeira entrada no misterioso salão do Clube Recreativo, uma edificação majestosa que parecia uma testemunha do passado. Era um palacete em sua forma, adornado por janelas amplas que revelavam o interior como olhos curiosos.

Construído após a fundação do clube em 1889, era um testemunho do tempo e da tradição que o permeava. As janelas de vidro e madeira, algumas indo até o chão, eram um convite para o espetáculo dentro e fora.

As colunas imponentes sustentavam um telhado em forma de pirâmide quadrangular, coroado por um para-raios que dominava o topo. Enquanto um lustre de ferro fundido e vidro pendia do teto, iluminando o ambiente com um toque de nostalgia colonial.

Foi inevitável sentir novamente a mesma sensação ao entrar naquele salão, pela primeira vez, onde o piso de madeira brilhava como um espelho, refletindo sonhos e ansiedades. Cortinas de veludo vermelho emolduravam a cena, enquanto o palco era ocupado pela orquestra de Silvio Mazzuca, entoando melodias que pareciam uma trilha sonora para o coração.

Casais de rostos próximos se moviam na pista, dançando lentamente, com a esperança de encher cada centímetro do espaço com histórias e sentimentos. Eu estava lá de novo. Voltara no tempo, como aquele jovem de 15 anos, com um coração acelerado e as mãos trêmulas.

Meus amigos, como cúmplices dessa aventura, ocupavam mesas próximas. Logo encontrei abrigo, ao dar um gole de coragem, em um copo de cuba libre de um deles, para acalmar o enorme turbilhão dentro de mim.

Os meus olhos varreram o salão, e entre os rostos conhecidos, eu a avistei. Aquela linda garota com quem já havia trocado olhares na escola, cujo sorriso tinha o poder de dissolver minhas inseguranças.

O primeiro passo, a abordagem, foi como um mergulho na escuridão do desconhecido. As palavras, embora simples, foram portadoras de nervosismo. A pergunta: “Quer dançar comigo?” ecoou como um eco em meu peito, enquanto olhava para os pais que acompanhavam a cena.

Ela sorriu, o sinal verde que esperava. O alívio se misturou com o prazer da vitória, e meus passos a guiaram para o centro do salão. No fundo, a orquestra tocava “Besame Mucho,” como uma trilha sonora para a história que estava prestes a se desenrolar.

Enquanto nossos rostos se aproximavam e as mãos se tocavam, o universo parecia congelar. Os nossos olhos encontraram-se em uma dança própria, enquanto sambas-canção e boleros embalavam num ritmo desajeitado. O medo de pisar em seus pés e o desejo de não parecer um completo tolo eram minha batalha interna.

A noite se desdobrou como um sonho. O olhar nervoso cedeu lugar a um sorriso tímido, e as conversas sussurradas enriqueceram a conexão que se formava. Cada instante era um presente, e até aquele beijo roubado no rosto, único da noite, tornou-se um marco de emoções inexplicáveis.

A melodia de Ed Sheeran, já estava chegando ao fim e percebi que era hora daquele meu sonho terminar, o portal se fechar e eu voltar para esta nossa época em que os olhares são breves e as conexões efêmeras.

Mas aquela noite, aquele baile, permaneceu na memória como um fragmento dessa cápsula do tempo, uma lembrança imaculada em meio à esta correria da vida moderna.

E no último segundo, ainda tive tempo de fechar os olhos e ouvir os versos finais daquela linda música:

“Amor, estou dançando no escuro
Com você entre meus braços…
Ouvindo nossa música favorita
Quando você me disse que não se via tão bonita
Eu sussurrei bem baixinho…
Querida, você está perfeita esta noite…”

José Luiz Ricchetti – 18/03/2022

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