CRÔNICA: SOPA DE PEDRA

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Crônica criada e escrita por José Luiz Ricchetti

Screenshot_20230314_131105_Gallery-300x198 CRÔNICA: SOPA DE PEDRA

Dizem que o que chamamos em culinária, de “sopa” teria surgido casualmente em regiões vulcânicas onde se formavam pequenas poças de água quente na superfície na qual os humanos depositavam várias verduras e legumes encontrados nas florestas, transformando aquela água quente empoçada em um caldo alimentar.

Por outro lado, a origem etimológica da palavra sopa vem do sânscrito, onde “sû” (significa bem) e “pô” (significa alimentar). Assim sopa significa simplesmente “bem alimentar”.

Nesta minha vida de viagens, morei em alguns países, entre os quais Portugal. Foi lá, na cidade de Almeirim, situada no coração da região do Ribatejo que conheci uma das sopas mais deliciosas que já provei, a “Sopa de Pedra”.

Esta receita que descrevo abaixo é do Sr. José Manuel Toucinho, proprietário do célebre restaurante ‘Toucinho de Almeirim’ e não estranhem o linguajar porque foi escrita em um português originário de Portugal:

“Se o feijão for do ano, não necessita ser demolhado. Se for duro, põe-se de molho durante algumas horas. Escalda-se e raspa-se a orelha de porco.
Leva-se o feijão a cozer em bastante água juntamente com a orelha, os chouriços, o toucinho, as cebolas, os alhos e o louro. Tempera-se com sal e pimenta. Se for necessário juntar mais água, deve ser sempre a ferver. Quando a carne estiver cozida, retira-se e introduzem-se na panela as batatas cortadas aos quadradinhos e a salsinha picada. Deixa-se cozer a batata. Assim que se retirar a panela do lume, introduzem-se as carnes previamente cortadas aos bocadinhos e uma pedra bem lavada, que deve ir a uma terrina.”

Receita do Sr. Toucinho a parte, reza uma lenda portuguesa que um Frade, que andava em peregrinação, cansado e faminto, após ter andado por muitos dias, chegou a uma aldeia pequena e muito pobre, onde decidiu descansar à beira da estrada.
O religioso, então, acendeu uma fogueira e colocou sobre ela um caldeirão de ferro. Depois, foi até um poço e pegou água para encher o recipiente e ferver a água.
Quando a água começou a ferver, colocou dentro uma bonita e brilhante pedra, que trazia na sua mochila, sentou-se e ficou tranquilamente observando o fogo aquecer o caldeirão com a pedra.
Os habitantes da aldeia aproximaram-se e ficaram extremamente intrigados com a atitude do forasteiro. Estaria ele fazendo uma sopa apenas com água e uma só pedra?
Depois de observá-lo por algum tempo, os aldeões resolveram puxar conversa. O Frade então falou sobre suas inúmeras andanças, sobre os lugares que conhecera e as grandes lições que aprendera.
Em pouco tempo, uma pequena multidão havia se formado ao seu redor.
Finalmente, um garoto resolveu fazer a ele a pergunta que não queria calar:
– Por que o senhor está cozinhando uma pedra?
– Porque essa é a minha refeição. Estou fazendo uma sopa de pedra, respondeu o Frade
– Mas só com água e uma pedra? Não fica sem gosto? retrucou o garoto.
– Espere aí, seu Frade, eu tenho umas verduras que sobraram em casa. Vou buscar para colocar na sua sopa… Disse uma velha senhora.
– E eu também tenho algumas cenouras. Disse uma outra mulher.
– Acho que tenho uma ou duas batatas… Vou buscar, falou um homem.
– Um pouco de sal com certeza vai melhorar o sabor… Acrescentou outro aldeão.
E assim, um a um, os habitantes da aldeia lembraram-se de algo que poderia ser adicionado à sopa, para que ela ficasse mais saborosa.
O Frade, então, convidou-os todos para compartilhar da sua refeição. Todos comeram, riram e contaram histórias, pensando que há muito tempo não tinham uma refeição como essa.
Ao cair da noite, os aldeões voltaram para suas casas e o Frade continuou sua jornada de peregrinação…
Aquelas pessoas jamais o esqueceram e criaram uma rotina que de tempos em tempos, se reuniam em torno de uma fogueira para fazer aquela tal sopa de pedra e relembrar as histórias do velho Frade.
Os habitantes das cidades vizinhas também ficaram espantados ao ver como, depois disso, aquela pequena aldeia prosperou e se perguntavam qual seria o segredo de seus moradores, que de tempos em tempos, eram vistos rindo e comendo em torno de uma fogueira, mesmo nas épocas de maior escassez.

A partir daí é que surgiu a expressão: ‘Sopa de Pedra’ que quer dizer aquilo que foi conseguido a partir do nada.

Na nossa vida é comum passarmos por momentos em que tudo parece dar errado, onde situações complicadas parecem se unir num só bloco para nos infernizar e nos sentirmos um nada. O fato é que na maioria dessas vezes nos deixamos abater e chegamos até a pensar que estamos com azar ou que alguém nos jogou uma praga.

Nestes momentos é a hora de nos acalmarmos, pensarmos, refletirmos e então buscarmos quem possa nos trazer os ingredientes para incrementar a nossa sopa de pedra e transformar aquela única pedra da nossa mochila da vida, em lições para enriquecermos a nossa alma.

São nesses momentos que surgem aquelas pessoas maravilhosas (os verdadeiros amigos) que sem interesse algum, se aproximam e nos trazem os ingredientes, como amor, fé e esperança, necessários para transformar uma sopa de pedra em algo delicioso.

Afinal mesmo que a nossa sopa se origine de uma pedra, se a palavra sopa vem do sânscrito, onde ‘sû’ (significa: bem) e ‘pô’ (significa: alimentar) ou seja sopa quer dizer “bem alimentar”, vamos ‘bem alimentar’ o espírito com as lições extraídas desses momentos difíceis da vida.

Vamos fazer como aqueles velhos aldeões, que mesmo em tempos de escassez, eram sempre vistos rindo e contando histórias em torno de uma fogueira, tomando com prazer uma deliciosa sopa de pedra…


José Luiz Ricchetti – 19/02/2023

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Crônica criada e escrita por José Luiz Ricchetti

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Dizem que o que chamamos em culinária, de “sopa” teria surgido casualmente em regiões vulcânicas onde se formavam pequenas poças de água quente na superfície na qual os humanos depositavam várias verduras e legumes encontrados nas florestas, transformando aquela água quente empoçada em um caldo alimentar.

Por outro lado, a origem etimológica da palavra sopa vem do sânscrito, onde “sû” (significa bem) e “pô” (significa alimentar). Assim sopa significa simplesmente “bem alimentar”.

Nesta minha vida de viagens, morei em alguns países, entre os quais Portugal. Foi lá, na cidade de Almeirim, situada no coração da região do Ribatejo que conheci uma das sopas mais deliciosas que já provei, a “Sopa de Pedra”.

Esta receita que descrevo abaixo é do Sr. José Manuel Toucinho, proprietário do célebre restaurante ‘Toucinho de Almeirim’ e não estranhem o linguajar porque foi escrita em um português originário de Portugal:

“Se o feijão for do ano, não necessita ser demolhado. Se for duro, põe-se de molho durante algumas horas. Escalda-se e raspa-se a orelha de porco.
Leva-se o feijão a cozer em bastante água juntamente com a orelha, os chouriços, o toucinho, as cebolas, os alhos e o louro. Tempera-se com sal e pimenta. Se for necessário juntar mais água, deve ser sempre a ferver. Quando a carne estiver cozida, retira-se e introduzem-se na panela as batatas cortadas aos quadradinhos e a salsinha picada. Deixa-se cozer a batata. Assim que se retirar a panela do lume, introduzem-se as carnes previamente cortadas aos bocadinhos e uma pedra bem lavada, que deve ir a uma terrina.”

Receita do Sr. Toucinho a parte, reza uma lenda portuguesa que um Frade, que andava em peregrinação, cansado e faminto, após ter andado por muitos dias, chegou a uma aldeia pequena e muito pobre, onde decidiu descansar à beira da estrada.
O religioso, então, acendeu uma fogueira e colocou sobre ela um caldeirão de ferro. Depois, foi até um poço e pegou água para encher o recipiente e ferver a água.
Quando a água começou a ferver, colocou dentro uma bonita e brilhante pedra, que trazia na sua mochila, sentou-se e ficou tranquilamente observando o fogo aquecer o caldeirão com a pedra.
Os habitantes da aldeia aproximaram-se e ficaram extremamente intrigados com a atitude do forasteiro. Estaria ele fazendo uma sopa apenas com água e uma só pedra?
Depois de observá-lo por algum tempo, os aldeões resolveram puxar conversa. O Frade então falou sobre suas inúmeras andanças, sobre os lugares que conhecera e as grandes lições que aprendera.
Em pouco tempo, uma pequena multidão havia se formado ao seu redor.
Finalmente, um garoto resolveu fazer a ele a pergunta que não queria calar:
– Por que o senhor está cozinhando uma pedra?
– Porque essa é a minha refeição. Estou fazendo uma sopa de pedra, respondeu o Frade
– Mas só com água e uma pedra? Não fica sem gosto? retrucou o garoto.
– Espere aí, seu Frade, eu tenho umas verduras que sobraram em casa. Vou buscar para colocar na sua sopa… Disse uma velha senhora.
– E eu também tenho algumas cenouras. Disse uma outra mulher.
– Acho que tenho uma ou duas batatas… Vou buscar, falou um homem.
– Um pouco de sal com certeza vai melhorar o sabor… Acrescentou outro aldeão.
E assim, um a um, os habitantes da aldeia lembraram-se de algo que poderia ser adicionado à sopa, para que ela ficasse mais saborosa.
O Frade, então, convidou-os todos para compartilhar da sua refeição. Todos comeram, riram e contaram histórias, pensando que há muito tempo não tinham uma refeição como essa.
Ao cair da noite, os aldeões voltaram para suas casas e o Frade continuou sua jornada de peregrinação…
Aquelas pessoas jamais o esqueceram e criaram uma rotina que de tempos em tempos, se reuniam em torno de uma fogueira para fazer aquela tal sopa de pedra e relembrar as histórias do velho Frade.
Os habitantes das cidades vizinhas também ficaram espantados ao ver como, depois disso, aquela pequena aldeia prosperou e se perguntavam qual seria o segredo de seus moradores, que de tempos em tempos, eram vistos rindo e comendo em torno de uma fogueira, mesmo nas épocas de maior escassez.

A partir daí é que surgiu a expressão: ‘Sopa de Pedra’ que quer dizer aquilo que foi conseguido a partir do nada.

Na nossa vida é comum passarmos por momentos em que tudo parece dar errado, onde situações complicadas parecem se unir num só bloco para nos infernizar e nos sentirmos um nada. O fato é que na maioria dessas vezes nos deixamos abater e chegamos até a pensar que estamos com azar ou que alguém nos jogou uma praga.

Nestes momentos é a hora de nos acalmarmos, pensarmos, refletirmos e então buscarmos quem possa nos trazer os ingredientes para incrementar a nossa sopa de pedra e transformar aquela única pedra da nossa mochila da vida, em lições para enriquecermos a nossa alma.

São nesses momentos que surgem aquelas pessoas maravilhosas (os verdadeiros amigos) que sem interesse algum, se aproximam e nos trazem os ingredientes, como amor, fé e esperança, necessários para transformar uma sopa de pedra em algo delicioso.

Afinal mesmo que a nossa sopa se origine de uma pedra, se a palavra sopa vem do sânscrito, onde ‘sû’ (significa: bem) e ‘pô’ (significa: alimentar) ou seja sopa quer dizer “bem alimentar”, vamos ‘bem alimentar’ o espírito com as lições extraídas desses momentos difíceis da vida.

Vamos fazer como aqueles velhos aldeões, que mesmo em tempos de escassez, eram sempre vistos rindo e contando histórias em torno de uma fogueira, tomando com prazer uma deliciosa sopa de pedra…


José Luiz Ricchetti – 19/02/2023

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