CRÔNICA: AS ROSAS BRANCAS

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cabeca-ricchetti CRÔNICA: AS ROSAS BRANCAS

Durante muitos anos, toda vez que eu ia até um asilo de velhinhos, para um trabalho social aproveitada para conversar com alguns deles.

Isto porque sempre entendi que muito mais que roupas e comidas o que mais lhes tocava o coração era essa conversa informal, aqueles minutos de atenção, para ouvir suas histórias, muitas delas cheias de saudades dos entes queridos.

image CRÔNICA: AS ROSAS BRANCAS

Afinal quem diz que a ausência é um mero detalhe que o tempo pode curar, é porque jamais entendeu o significado da palavra saudade.

Desses idosos todos, me lembro em particular de uma senhora, de uns oitenta e poucos anos, que havia sido abandonada pelos filhos. Ela se chamava D. Sofia.

Foi ela, que um dia, me contou esta pequena história que tento agora reproduzir aqui, usando minhas próprias palavras:

“Ela tinha acabado de entrar no pequeno supermercado, perto de sua casa, para comprar algumas coisas. Às sextas feiras ela e seu marido Antonio costumavam ir sempre lá para fazer compras.

Todas essas vezes, seu marido Antonio, em algum momento, sumia pelos corredores até aparecer de novo com um pequeno maço de rosas brancas nas mãos, para lhe presentear. Ele adorava fazer sempre essa surpresa para ela, com as rosas brancas…

Era a primeira vez, depois de meses, que ela voltava àquele mercado, depois que seu marido havia partido para se encontrar com Deus. A dor da saudade era muito forte e estar ali de volta, era um sentimento intenso, exatamente pelas boas lembranças que tinha do seu marido.

Nesse dia, ela parou em frente a gôndola de peixes, procurando por camarões, como fazia antes com o marido, pois os dois adoravam frutos do mar.

De repente surgiu uma jovem ao seu lado, que apanhou um pacote de camarão e o colocou no carrinho, para logo em seguida, muito hesitante, colocá-lo de volta na gôndola.

Quando a jovem notou a presença de D. Sofia, se virou para ela e exclamou:

– Sou recém-casada e meu marido ama camarões, mas honestamente, com este preço, não sei se devo levar…

D. Sofia engoliu a emoção e olhando nos olhos da jovem, lhe respondeu:

– Olha minha filha, meu marido faleceu há poucos meses e ele também adorava camarões… Se eu fosse você comprava os camarões para o seu marido pois acredite, a vida passa muito rápido, as vezes basta um piscar de olhos…

Ela então percebeu que a jovem estremeceu com aquelas suas palavras e que a emoção transparecia através de seus olhos. Em seguida, como que concordando com suas palavras, a jovem voltou a pegar o pacote de camarões e a colocá-lo de volta no seu carrinho.

Sem dizer nada, D. Sofia saiu e continuou a andar pelos corredores, em busca de mais algumas coisas que precisava comprar.

Quando estava no corredor de lacticínios, tentando decidir qual o tipo de queijo iria comprar, reconheceu que a mesma jovem vinha em sua direção.

Nos braços dela havia um pacote e seu rosto estampava um enorme sorriso iluminado, que ela jamais tinha visto. Parecia até que um pequeno círculo suave e luminosos cercava seu rosto…

Quando a jovem chegou mais perto, D. Sofia percebeu o que ela segurava nas mãos e imediatamente seus olhos marejaram de lágrimas…

– Essas rosas são para a senhora! Ela disse, enquanto colocava aquele lindo buquê de rosas brancas nas mãos de D. Sofia.

– Não se preocupe, quando for passar no caixa, porque elas já estão pagas. A jovem completou….

Em seguida sorriu, deu um beijo na face de D. Sofia e se foi…

D. Sofia quis sair correndo atrás dela para contar o que tinha feito e o que aquelas rosas significavam para ela, mas ficou ali paralisada pela emoção, completamente sem fala, vendo ela sair do supermercado e desaparecer….

Então olhou novamente para aquelas lindas rosas brancas, envolvidas em um lindo embrulho de celofane e pensou: Isto não pode ser real. Como ela soube? Como ela adivinhou sobre as rosas brancas?

De repente ela sentiu um calor, como que a envolvendo por inteira e a resposta surgiu em sua mente. Ela percebeu que não estava só e murmurou:

– Ah Antonio, você não me esqueceu, não é?”

…………….

Até hoje quando me lembro dessa linda história da D. Sofia vejo o quanto devemos ser gratos pelo que temos e por tudo que a vida nos proporciona. Coisas assim é que nos fazem refletir sobre como temos que aproveitar os bons momentos da vida.

Esse momento me fez até relembrar daquela frase que o coelho diz para Alice em ‘O País das Maravilhas’ quando ela lhe pergunta quanto tempo dura o eterno? E o coelho lhe responde:

– Às vezes apenas um segundo…

São momentos como estes, que fazem com que a gente pare no tempo e perceba que mesmo quando a vida nos parece perdida de si mesma, mesmo quando achamos que não conseguiremos atravessar o deserto da tristeza, mesmo quando a nossa saudade não termina e que as nossas lágrimas nunca cessam ou que a nossa dor nunca passa…

Vem Deus e nos traz a calma, ameniza a tempestade, tranquiliza o coração e acalma a nossa alma.

Momentos como estes é que fazem com que a gente tenha a certeza do quanto o simples de Deus é extraordinário!

José Luiz Ricchetti – 17/07/2022

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Durante muitos anos, toda vez que eu ia até um asilo de velhinhos, para um trabalho social aproveitada para conversar com alguns deles.

Isto porque sempre entendi que muito mais que roupas e comidas o que mais lhes tocava o coração era essa conversa informal, aqueles minutos de atenção, para ouvir suas histórias, muitas delas cheias de saudades dos entes queridos.

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Afinal quem diz que a ausência é um mero detalhe que o tempo pode curar, é porque jamais entendeu o significado da palavra saudade.

Desses idosos todos, me lembro em particular de uma senhora, de uns oitenta e poucos anos, que havia sido abandonada pelos filhos. Ela se chamava D. Sofia.

Foi ela, que um dia, me contou esta pequena história que tento agora reproduzir aqui, usando minhas próprias palavras:

“Ela tinha acabado de entrar no pequeno supermercado, perto de sua casa, para comprar algumas coisas. Às sextas feiras ela e seu marido Antonio costumavam ir sempre lá para fazer compras.

Todas essas vezes, seu marido Antonio, em algum momento, sumia pelos corredores até aparecer de novo com um pequeno maço de rosas brancas nas mãos, para lhe presentear. Ele adorava fazer sempre essa surpresa para ela, com as rosas brancas…

Era a primeira vez, depois de meses, que ela voltava àquele mercado, depois que seu marido havia partido para se encontrar com Deus. A dor da saudade era muito forte e estar ali de volta, era um sentimento intenso, exatamente pelas boas lembranças que tinha do seu marido.

Nesse dia, ela parou em frente a gôndola de peixes, procurando por camarões, como fazia antes com o marido, pois os dois adoravam frutos do mar.

De repente surgiu uma jovem ao seu lado, que apanhou um pacote de camarão e o colocou no carrinho, para logo em seguida, muito hesitante, colocá-lo de volta na gôndola.

Quando a jovem notou a presença de D. Sofia, se virou para ela e exclamou:

– Sou recém-casada e meu marido ama camarões, mas honestamente, com este preço, não sei se devo levar…

D. Sofia engoliu a emoção e olhando nos olhos da jovem, lhe respondeu:

– Olha minha filha, meu marido faleceu há poucos meses e ele também adorava camarões… Se eu fosse você comprava os camarões para o seu marido pois acredite, a vida passa muito rápido, as vezes basta um piscar de olhos…

Ela então percebeu que a jovem estremeceu com aquelas suas palavras e que a emoção transparecia através de seus olhos. Em seguida, como que concordando com suas palavras, a jovem voltou a pegar o pacote de camarões e a colocá-lo de volta no seu carrinho.

Sem dizer nada, D. Sofia saiu e continuou a andar pelos corredores, em busca de mais algumas coisas que precisava comprar.

Quando estava no corredor de lacticínios, tentando decidir qual o tipo de queijo iria comprar, reconheceu que a mesma jovem vinha em sua direção.

Nos braços dela havia um pacote e seu rosto estampava um enorme sorriso iluminado, que ela jamais tinha visto. Parecia até que um pequeno círculo suave e luminosos cercava seu rosto…

Quando a jovem chegou mais perto, D. Sofia percebeu o que ela segurava nas mãos e imediatamente seus olhos marejaram de lágrimas…

– Essas rosas são para a senhora! Ela disse, enquanto colocava aquele lindo buquê de rosas brancas nas mãos de D. Sofia.

– Não se preocupe, quando for passar no caixa, porque elas já estão pagas. A jovem completou….

Em seguida sorriu, deu um beijo na face de D. Sofia e se foi…

D. Sofia quis sair correndo atrás dela para contar o que tinha feito e o que aquelas rosas significavam para ela, mas ficou ali paralisada pela emoção, completamente sem fala, vendo ela sair do supermercado e desaparecer….

Então olhou novamente para aquelas lindas rosas brancas, envolvidas em um lindo embrulho de celofane e pensou: Isto não pode ser real. Como ela soube? Como ela adivinhou sobre as rosas brancas?

De repente ela sentiu um calor, como que a envolvendo por inteira e a resposta surgiu em sua mente. Ela percebeu que não estava só e murmurou:

– Ah Antonio, você não me esqueceu, não é?”

…………….

Até hoje quando me lembro dessa linda história da D. Sofia vejo o quanto devemos ser gratos pelo que temos e por tudo que a vida nos proporciona. Coisas assim é que nos fazem refletir sobre como temos que aproveitar os bons momentos da vida.

Esse momento me fez até relembrar daquela frase que o coelho diz para Alice em ‘O País das Maravilhas’ quando ela lhe pergunta quanto tempo dura o eterno? E o coelho lhe responde:

– Às vezes apenas um segundo…

São momentos como estes, que fazem com que a gente pare no tempo e perceba que mesmo quando a vida nos parece perdida de si mesma, mesmo quando achamos que não conseguiremos atravessar o deserto da tristeza, mesmo quando a nossa saudade não termina e que as nossas lágrimas nunca cessam ou que a nossa dor nunca passa…

Vem Deus e nos traz a calma, ameniza a tempestade, tranquiliza o coração e acalma a nossa alma.

Momentos como estes é que fazem com que a gente tenha a certeza do quanto o simples de Deus é extraordinário!

José Luiz Ricchetti – 17/07/2022

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