Crônica: Manapa

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cabeca-ricchetti Crônica: Manapa

Definitivamente não somos donos do nosso destino. Conhecemos o ontem, vivemos o hoje, mas não sabemos nada do amanhã.

Quando mesmo esperamos algo acontece e tudo muda. O que era de um jeito passa a ser de outro completamente diferente e coisas que nunca imaginamos acontecem.

Pode ser o seu casamento, o seu namoro, a sua vida profissional, o seu relacionamento com um amigo de longa data, o convívio com quem amamos, uma mudança de cidade ou de emprego. Enfim coisas que nunca você havia previsto e nem planejado, mas que simplesmente acontecem, do nada.

Já passei por várias dessas surpresas que a vida nos prega e quando comento com meus filhos ou com amigos mais novos, todos eles me olham inicialmente com desdém, mas o tempo passa e lhes mostra que eu tinha razão.

Nesse momento, eles me olham e dizem que eu sou bruxo e que previ coisas. Eu então respondo que apenas expressei a minha experiência de vida de que nada é eterno. No amor então eu assino embaixo da frase de Vinicius de Moraes: ‘Que seja eterno enquanto dure’

É inevitável também as despedidas de pessoas queridas. Nestes casos sabemos que são bem mais difíceis e dolorosas, mas o tempo também se encarrega de nos ajudar a entender que tudo tem começo, meio e fim e que um dia nos reencontraremos na outra dimensão.

Ficam nesses casos, também gravados, na nossa alma e no nosso coração as coisas boas que vivemos juntos e todos os aprendizados, as alegrias que recebemos e partilhamos com aquele que se foi, antes de nós.

Em 2019 aconteceu uma dessas mudanças inesperadas comigo, quando surgiu, do nada, uma possibilidade para minha esposa assumir um cargo em São Carlos, interior do estado. Partimos, em poucas semanas, com a cara e a coragem e com a mala e cuia.

Foram dois anos maravilhosos em que curtimos a vida no interior vivendo em um lindo condomínio, cheio de muito verde e de muito conforto e com muita qualidade de vida. Nesse período também tivemos a grata oportunidade de fazer grandes amizades, que permanecem até hoje.

Assim, dois anos depois dessa mudança para São Carlos tivemos que voltar para São Paulo e uma nova fase da vida começou. Mais uma mudança.
Nesse momento tivemos que fazer as despedidas, da cidade e dos amigos e isso nem sempre é fácil. Despedidas são sempre ciclos que se encerram e temos que aprender a conviver com isso.

Certas coisas na nossa vida acabam sem a gente querer. A gente não quer que aquilo se encerre, mas sabemos, no fundo do coração, que essas mudanças são sempre necessárias. São idas e vindas, lugares em que vivemos por um tempo, amigos e que depois temos que deixar e ir embora.

Eu mesmo vivi muitos anos em outros países e coisas fantásticas aconteceram tanto do lado profissional como pessoal, mas que um dia terminou e restou as boas lembranças, que ficaram bem guardadas na memória e no coração.

Quando chega a hora da mudança, de começar a encaixotar as coisas, a gente percebe o quanto juntamos de coisas supérfluas, mas ao mesmo tempo rememoramos, enquanto fechamos as caixas, todas as coisas boas que aconteceram ali naquele lugar, os amigos, as experiências vividas.

Nesse momento percebemos que o melhor que nos aconteceu não foram coisas materiais, mas os aprendizados, as trocas de experiências de vida, os grandes amigos que ficaram.

Mas logo vem a mudança e coisas novas aparecem, novas amizades, novas experiências e novos lugares.

Serão novos amanheceres, novos pores do sol, novas casas, novas cidades, novas paisagens, novas amizades, novos acontecimentos, novas lembranças que irão surgir.

Enfim tudo se renova e tudo vem para somar e agregar ao que já vivemos.
Nesse momento sentimos uma alegria que vem de dentro, por tudo aquilo que já passou, que nos trouxe aprendizados, que nos trouxe ricas experiências, que firmou grandes amizades.

O sânscrito, língua ancestral do Nepal e da Índia e que tem uma importância muito grande nas religiões como o hinduísmo, budismo e jainismo tem uma palavra que define muito bem essa alegria que sentimos na alma quando nos lembramos das coisas boas que já vivemos em outros lugares em outras situações. Essa palavra é “Manapa”.

O Manapa é isso, sentir a alegria das coisas boas que ficaram em decorrência das mudanças necessárias na vida.

Sentir o Manapa é saber e aceitar que tudo que já vivemos, que todas as mudanças têm um sentido e um significado na nossa vida e que não acontecem por acaso.

Dentro de cada coisa, cada situação, cada mudança que vivemos existe uma alegria. Em tudo que já fizemos podemos encontrar uma luz, um aprendizado, uma razão e essa alegria.

O mundo renasce a cada nascer do sol, e nenhum nascer do sol é igual ao outro. Sempre encontraremos no final de cada dia uma grande mudança que vem com o pôr do sol.

O pôr do sol quando acaba traz a noite escura, mas sempre seremos brindados com a beleza da luz da lua clareando nossas noites e anunciando que no dia seguinte teremos outra vez um maravilhoso nascer do sol, um novo dia!

Todas as coisas que nos acontecem e que mudam a nossa vida são sempre necessárias e é sempre possível extrair delas a alegria do Manapa.

José Luiz Ricchetti -30/01/2022

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Definitivamente não somos donos do nosso destino. Conhecemos o ontem, vivemos o hoje, mas não sabemos nada do amanhã.

Quando mesmo esperamos algo acontece e tudo muda. O que era de um jeito passa a ser de outro completamente diferente e coisas que nunca imaginamos acontecem.

Pode ser o seu casamento, o seu namoro, a sua vida profissional, o seu relacionamento com um amigo de longa data, o convívio com quem amamos, uma mudança de cidade ou de emprego. Enfim coisas que nunca você havia previsto e nem planejado, mas que simplesmente acontecem, do nada.

Já passei por várias dessas surpresas que a vida nos prega e quando comento com meus filhos ou com amigos mais novos, todos eles me olham inicialmente com desdém, mas o tempo passa e lhes mostra que eu tinha razão.

Nesse momento, eles me olham e dizem que eu sou bruxo e que previ coisas. Eu então respondo que apenas expressei a minha experiência de vida de que nada é eterno. No amor então eu assino embaixo da frase de Vinicius de Moraes: ‘Que seja eterno enquanto dure’

É inevitável também as despedidas de pessoas queridas. Nestes casos sabemos que são bem mais difíceis e dolorosas, mas o tempo também se encarrega de nos ajudar a entender que tudo tem começo, meio e fim e que um dia nos reencontraremos na outra dimensão.

Ficam nesses casos, também gravados, na nossa alma e no nosso coração as coisas boas que vivemos juntos e todos os aprendizados, as alegrias que recebemos e partilhamos com aquele que se foi, antes de nós.

Em 2019 aconteceu uma dessas mudanças inesperadas comigo, quando surgiu, do nada, uma possibilidade para minha esposa assumir um cargo em São Carlos, interior do estado. Partimos, em poucas semanas, com a cara e a coragem e com a mala e cuia.

Foram dois anos maravilhosos em que curtimos a vida no interior vivendo em um lindo condomínio, cheio de muito verde e de muito conforto e com muita qualidade de vida. Nesse período também tivemos a grata oportunidade de fazer grandes amizades, que permanecem até hoje.

Assim, dois anos depois dessa mudança para São Carlos tivemos que voltar para São Paulo e uma nova fase da vida começou. Mais uma mudança.
Nesse momento tivemos que fazer as despedidas, da cidade e dos amigos e isso nem sempre é fácil. Despedidas são sempre ciclos que se encerram e temos que aprender a conviver com isso.

Certas coisas na nossa vida acabam sem a gente querer. A gente não quer que aquilo se encerre, mas sabemos, no fundo do coração, que essas mudanças são sempre necessárias. São idas e vindas, lugares em que vivemos por um tempo, amigos e que depois temos que deixar e ir embora.

Eu mesmo vivi muitos anos em outros países e coisas fantásticas aconteceram tanto do lado profissional como pessoal, mas que um dia terminou e restou as boas lembranças, que ficaram bem guardadas na memória e no coração.

Quando chega a hora da mudança, de começar a encaixotar as coisas, a gente percebe o quanto juntamos de coisas supérfluas, mas ao mesmo tempo rememoramos, enquanto fechamos as caixas, todas as coisas boas que aconteceram ali naquele lugar, os amigos, as experiências vividas.

Nesse momento percebemos que o melhor que nos aconteceu não foram coisas materiais, mas os aprendizados, as trocas de experiências de vida, os grandes amigos que ficaram.

Mas logo vem a mudança e coisas novas aparecem, novas amizades, novas experiências e novos lugares.

Serão novos amanheceres, novos pores do sol, novas casas, novas cidades, novas paisagens, novas amizades, novos acontecimentos, novas lembranças que irão surgir.

Enfim tudo se renova e tudo vem para somar e agregar ao que já vivemos.
Nesse momento sentimos uma alegria que vem de dentro, por tudo aquilo que já passou, que nos trouxe aprendizados, que nos trouxe ricas experiências, que firmou grandes amizades.

O sânscrito, língua ancestral do Nepal e da Índia e que tem uma importância muito grande nas religiões como o hinduísmo, budismo e jainismo tem uma palavra que define muito bem essa alegria que sentimos na alma quando nos lembramos das coisas boas que já vivemos em outros lugares em outras situações. Essa palavra é “Manapa”.

O Manapa é isso, sentir a alegria das coisas boas que ficaram em decorrência das mudanças necessárias na vida.

Sentir o Manapa é saber e aceitar que tudo que já vivemos, que todas as mudanças têm um sentido e um significado na nossa vida e que não acontecem por acaso.

Dentro de cada coisa, cada situação, cada mudança que vivemos existe uma alegria. Em tudo que já fizemos podemos encontrar uma luz, um aprendizado, uma razão e essa alegria.

O mundo renasce a cada nascer do sol, e nenhum nascer do sol é igual ao outro. Sempre encontraremos no final de cada dia uma grande mudança que vem com o pôr do sol.

O pôr do sol quando acaba traz a noite escura, mas sempre seremos brindados com a beleza da luz da lua clareando nossas noites e anunciando que no dia seguinte teremos outra vez um maravilhoso nascer do sol, um novo dia!

Todas as coisas que nos acontecem e que mudam a nossa vida são sempre necessárias e é sempre possível extrair delas a alegria do Manapa.

José Luiz Ricchetti -30/01/2022

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