Este final de semana estava assistindo a um canal de televisão fechado e me deparei com uma reportagem sobre uma brasileira que, morando em uma ilha, protegia os ovos de tartarugas, até elas se reproduzirem, e depois as lançava ao mar.
Nada contra este seu nobre trabalho de ajuda à natureza, pelo contrário, é digno de elogios.
O que na realidade me intrigou foi que na sequência da reportagem ela conta que tinha uma vida normal de programadora de software em São Paulo, era casada e mãe de uma filhinha pequena, até que abandonou a família e tudo o mais, para, segundo ela, ir atrás da sua felicidade…
Durante a entrevista, mesmo chorando, ao mencionar a saudade da sua filha, ela diz estar feliz com a sua escolha porque agora faz o que gosta, como instrutora de mergulho e protetora de tartarugas, vivendo sozinha, em uma ilha. Será?
Sou dos que acreditam que todo mundo deve sempre ir em busca dos seus sonhos.
Porém, antes de sairmos por aí, acho que é importante ter consciência, de que a felicidade não mora em um lugar específico, em uma profissão, em uma maneira diferente de viver, em uma praia maravilhosa, a felicidade mora sempre dentro do nosso coração.
Se temos problemas não resolvidos, não adianta buscarmos um lugar maravilhoso para morar, porque todos os nossos problemas irão junto. É o mesmo que achar que indo para uma casa melhor, as brigas de um casal irão acabar ou que a vinda de um bebê irá resolver em definitivo a incompatibilidade entre eles.
Os problemas sempre irão estar dentro de nós, estejamos em um pequeno e apertado apartamento, numa grande e poluída metrópole ou no meio de um congestionamento de carros ou num passeio de bicicleta por alamedas de um florido e maravilhoso parque ou no topo de uma linda montanha vendo o nascer do sol ou nadando em águas azuis turquesa e transparentes de uma praia da Sardenha.
Não existe mágica! Os problemas sempre nos acompanham onde quer que estejamos.
Por isso é que precisamos nos conhecer melhor, antes de sairmos por aí achando que a felicidade estará nas lindas pétalas de uma roseira, ou que virá embalada junto com o príncipe encantado, ou observando lindos lagos no meio da natureza, ou então que será só largar uma profissão e virar professor de mergulho no caribe que felicidade estará lá, bem no fundo do mar azul, dentro de uma concha, como uma pérola, esperando para ser apanhada.
A chave da felicidade se encontra em pequenas coisas, em atos simples, seja, no carinho para uma criança no orfanato, no sorriso de um morador de rua, quando lhe damos um sanduíche para matar sua fome, ou num singelo ‘bom dia’ a um funcionário humilde, que retira o lixo do nosso prédio.
A felicidade está sempre ali, guardada no nosso coração e se manifesta todas as vezes que esquecemos de nós e fazemos algo, desinteressadamente, por alguém. A felicidade aparece quando descobrimos que as nossas alegrias estão escondidas nas pequenas e simples alegrias dos outros.
A chave da felicidade está dentro de nós e é como se fosse um copo de cheio de água, basta deixarmos transbordar.
A felicidade está em pequenos atos de amor, que se somam dia a dia, não está em uma única ação, decisão ou mudança. Ela não se encontra nas coisas que nos falta, mas sim no bom uso das coisas que temos. A felicidade está nas coisas mais bobas e simples.
A felicidade pode estar quando oferecemos o ombro amigo ou quando rezamos por um tio doente de um conhecido, ou quando simplesmente nos colocamos a disposição de alguém, para ouvir um desabafo.
Mesmo se não nos sentirmos felizes com os resultados alcançados a felicidade está lá, basta mantermos o sorriso e perceber que fomos contemplados com a sabedoria do aprendizado.
A vida, às vezes, nos vira de ponta cabeça, mas é só para nos lembrar que a felicidade vem de dentro para fora. Temos sempre que nos lembrar que a felicidade costuma bater na porta, mas não tem a chave. Então é preciso abrir e escancarar a porta do nosso coração e deixar o amor fluir.
Todos nós podemos sentir a felicidade e ela só sai de dentro da nossa alma quando cultivamos a paz interior. Sentir a felicidade, é perceber que a nossa alma quer dar um grande sorriso, mas nossos lábios se parecem muito pequenos para expressá-la.
Podemos dizer que todos nós, no meio das aventuras da vida, sempre estamos à procura da chave da felicidade, mas tal qual o vovô que procura pela casa por seus óculos, ela, na maioria das vezes, está bem na ponta do nosso nariz!
José Luiz Ricchetti – 03/08/2020