Texto criado e escrito por José Luiz Ricchetti

Dizem que antes de um rio entrar no mar, ele treme de medo.
Então, temeroso, ele começa a olhar para trás e se lembrar de toda a sua jornada, de como percorreu inúmeras terras, montanhas e vales, do longo e sinuoso caminho que trilhou, através de florestas, campos e cidades.

Então ao ver a sua frente aquele imenso oceano, ele percebe que assim que entrar irá desaparecer por completo e para sempre.
Mas não há outra maneira, porque não se pode voltar. Nem o rio nem ninguém pode voltar. Voltar é uma coisa impossível nessa nossa existência.
Assim só cabe ao rio deixar o medo de lado e mesmo sentindo um risco eminente, entrar de vez no mar.
Mas assim que ele entra, aos poucos, todo aquele seu medo desaparece, porque ele percebe que não se trata de desaparecer no oceano, mas de tornar-se oceano.
Assim também é a nossa vida, não existe volta ninguém pode voltar. Voltar é coisa impossível nessa existência.
Temos que olhar para trás e ver os rios, vales e montanhas que atravessamos, ver todas aquelas nossas dificuldades, todos aqueles dias alegres, todos os dias tristes, os bons e os maus momentos e entender que todos eles fizeram parte do nosso trajeto, do nosso longo e sinuoso caminho de vida.
A cada dificuldade transposta percebemos que ficou uma lição aprendida e que todos aqueles que nos acompanharam durante parte do trajeto ou durante toda a nossa jornada também tinham seus problemas, seus atalhos e que alguns deles deixaram de nos acompanhar ou porque se foram antes ou porque escolheram seguir por outros caminhos.
Mas seja por este ou aquele motivo, todos eles, que fizeram parte do nosso caminho, deixaram alguma coisa, contribuíram com algo, nos ajudaram de alguma forma a entender melhor cada um dos obstáculos que a vida nos premiou.
Assim antes de entrarmos no mar da nossa vida, é o momento de pensarmos:
Se cumprimos com cada uma das nossas missões, se deixamos um legado.
Se soubemos transferir o que sabíamos e se aprendemos com tudo aquilo que ensinamos.
Se compreendemos a importância do tempo que ajudou a curar nossas dores e a cicatrizar nossas feridas.
Se conseguimos remover cada pedra sem ferir nenhuma flor.
Se seguimos espalhando boas sementes e reflorindo cada jardim.
O fato é que não precisamos ter medo, porque ninguém morre, quando, espalha canções cujos versos são como néctar para quem sabe ouvir.
O mais importante ao chegar a nossa hora, é não ter medo, porque não se trata de sermos apenas um rio que desaparece no oceano, mas o momento sublime em que voltamos a ser parte do próprio oceano…
José Luiz Ricchetti – 15/05/2022