Crônica: Don Quixote Caipira

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cabeca-ricchetti Crônica: Don Quixote Caipira

Era uma vez um reino rico e próspero onde seus habitantes viviam muito alegres e felizes, fazendo com que suas famílias se fixassem e crescessem nas suas vilas e cidades. A renda do reino aumentava dia a dia, principalmente em função da cultura do café.

As suas grandes fazendas e casas comerciais, altamente rentáveis, eram passadas de geração em geração. Suas escolas públicas eram consideradas ótimas, seus professores excelentes.

image Crônica: Don Quixote Caipira

Tudo isso contribuía para que a grande maioria de seus habitantes sentisse muito orgulho de pertencer àquele reino e não tivesse a mínima necessidade nem vontade de buscar outro reino para morar, estudar ou viver.

Todas as suas construções, palácios, igrejas e vivendas, bem como suas praças, jardins e clubes eram todos muito bem conservados e mantidos tanto pela população que lá vivia, quanto pelo rei, com sua administração, sempre brilhante e eficaz.

O reino possuía vários jornais, rádios e muitos dos seus súditos eram pessoas de grande projeção e amantes da arte e da cultura. Toda essa cultura era promovida através de várias festas, bailes, saraus e apresentações de orquestras e musicais, que atraiam muitos habitantes dos reinos vizinhos.

Várias das festas do reino eram reconhecidas, pelos habitantes vizinhos como as melhores dentre os vários reinos da região. Essa fama, inclusive, atraia cada vez mais visitantes de outros reinos para conhecê-las e apreciá-las.  

Até que um dia a agricultura mudou, a economia mudou, o mundo se transformou, a política se esfacelou.

Mas nem o rei, nem seus ministros souberam ou não quiseram entender nem interpretar as consequências futuras dessas mudanças e então o reino começou a sentir todos os efeitos desses novos tempos.

Essas alterações despertaram também no rei e seus sucessores, grandes ambições pessoais e políticas e a partir desse ponto todos eles passaram a não ter mais nenhum compromisso com o reino e nem tampouco com seus habitantes.

Sem reação, a população do reino assistiu passivamente a todas as transformações, sem se dar conta dos terríveis resultados que essas mudanças trariam no futuro.

Em função dessas más administrações, as cidades e vilas, as terras, as casas comerciais daquele próspero reino, foram pouco a pouco, perdendo seu brilho e seu valor.

As antigas construções, palácios e vivendas, bem como suas praças e jardins e seus clubes foram um a um sendo vendidos, abandonados, ou destruídos sem que ninguém se posicionasse contra àquelas más administrações.

As antigas casas comerciais de famílias tracionais, perderam rentabilidade o que fez com que seus herdeiros não tivessem mais a possibilidade de seguir com seus negócios e fecharam.

As grandes fazendas também tiveram o mesmo fim e suas terras foram sendo arrendadas e ou vendidas pelas antigas famílias, suas proprietárias.

A velha estação ferroviária, que com seus trens levavam e traziam pessoas, mercadorias e progresso, perdeu a sua função, seu sentido comercial e foi abandonada pela própria dona da ferrovia e até o tradicional bebedouro de cavalos foi mudado de lugar.

Os seus filhos mais tradicionais foram embora, em busca de estudo e trabalho que o velho reino não tinha mais condições de proporcionar e a população foi diminuindo.

Os antigos e tradicionais habitantes foram sendo substituídos por boia frias e profissionais de reinos vizinhos que usavam o antigo reino apenas para pernoitar em função do baixo custo de aluguel.

Até que um dia, uma voz da literatura, que sempre amou aquele reino, com suas crônicas, procurou dar um alerta e demonstrar a todos o que tinha acontecido no decorrer do tempo. Era um alerta para que todos entendessem que somente os habitantes do reino tem o poder de serem os agentes das mudanças.

Nem todo mundo entendeu… e até o rei se revoltou, pois até a noite de autógrafos do velho escritor ignorou…

Tudo isso, como um Don Quixote Caipira, me fez lembrar de um trecho da grande obra de Cervantes:

“Sonhar o sonho impossível,

Sofrer a angústia implacável,

Pisar onde os bravos não ousam,

Reparar o mal irreparável,

Amar um amor casto à distância,

Enfrentar o inimigo invencível,

Tentar quando as forças se esvaem,

Alcançar a estrela inatingível

Essa é a minha busca.”

José Luiz Ricchetti

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Era uma vez um reino rico e próspero onde seus habitantes viviam muito alegres e felizes, fazendo com que suas famílias se fixassem e crescessem nas suas vilas e cidades. A renda do reino aumentava dia a dia, principalmente em função da cultura do café.

As suas grandes fazendas e casas comerciais, altamente rentáveis, eram passadas de geração em geração. Suas escolas públicas eram consideradas ótimas, seus professores excelentes.

image Crônica: Don Quixote Caipira

Tudo isso contribuía para que a grande maioria de seus habitantes sentisse muito orgulho de pertencer àquele reino e não tivesse a mínima necessidade nem vontade de buscar outro reino para morar, estudar ou viver.

Todas as suas construções, palácios, igrejas e vivendas, bem como suas praças, jardins e clubes eram todos muito bem conservados e mantidos tanto pela população que lá vivia, quanto pelo rei, com sua administração, sempre brilhante e eficaz.

O reino possuía vários jornais, rádios e muitos dos seus súditos eram pessoas de grande projeção e amantes da arte e da cultura. Toda essa cultura era promovida através de várias festas, bailes, saraus e apresentações de orquestras e musicais, que atraiam muitos habitantes dos reinos vizinhos.

Várias das festas do reino eram reconhecidas, pelos habitantes vizinhos como as melhores dentre os vários reinos da região. Essa fama, inclusive, atraia cada vez mais visitantes de outros reinos para conhecê-las e apreciá-las.  

Até que um dia a agricultura mudou, a economia mudou, o mundo se transformou, a política se esfacelou.

Mas nem o rei, nem seus ministros souberam ou não quiseram entender nem interpretar as consequências futuras dessas mudanças e então o reino começou a sentir todos os efeitos desses novos tempos.

Essas alterações despertaram também no rei e seus sucessores, grandes ambições pessoais e políticas e a partir desse ponto todos eles passaram a não ter mais nenhum compromisso com o reino e nem tampouco com seus habitantes.

Sem reação, a população do reino assistiu passivamente a todas as transformações, sem se dar conta dos terríveis resultados que essas mudanças trariam no futuro.

Em função dessas más administrações, as cidades e vilas, as terras, as casas comerciais daquele próspero reino, foram pouco a pouco, perdendo seu brilho e seu valor.

As antigas construções, palácios e vivendas, bem como suas praças e jardins e seus clubes foram um a um sendo vendidos, abandonados, ou destruídos sem que ninguém se posicionasse contra àquelas más administrações.

As antigas casas comerciais de famílias tracionais, perderam rentabilidade o que fez com que seus herdeiros não tivessem mais a possibilidade de seguir com seus negócios e fecharam.

As grandes fazendas também tiveram o mesmo fim e suas terras foram sendo arrendadas e ou vendidas pelas antigas famílias, suas proprietárias.

A velha estação ferroviária, que com seus trens levavam e traziam pessoas, mercadorias e progresso, perdeu a sua função, seu sentido comercial e foi abandonada pela própria dona da ferrovia e até o tradicional bebedouro de cavalos foi mudado de lugar.

Os seus filhos mais tradicionais foram embora, em busca de estudo e trabalho que o velho reino não tinha mais condições de proporcionar e a população foi diminuindo.

Os antigos e tradicionais habitantes foram sendo substituídos por boia frias e profissionais de reinos vizinhos que usavam o antigo reino apenas para pernoitar em função do baixo custo de aluguel.

Até que um dia, uma voz da literatura, que sempre amou aquele reino, com suas crônicas, procurou dar um alerta e demonstrar a todos o que tinha acontecido no decorrer do tempo. Era um alerta para que todos entendessem que somente os habitantes do reino tem o poder de serem os agentes das mudanças.

Nem todo mundo entendeu… e até o rei se revoltou, pois até a noite de autógrafos do velho escritor ignorou…

Tudo isso, como um Don Quixote Caipira, me fez lembrar de um trecho da grande obra de Cervantes:

“Sonhar o sonho impossível,

Sofrer a angústia implacável,

Pisar onde os bravos não ousam,

Reparar o mal irreparável,

Amar um amor casto à distância,

Enfrentar o inimigo invencível,

Tentar quando as forças se esvaem,

Alcançar a estrela inatingível

Essa é a minha busca.”

José Luiz Ricchetti

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