Na época em que era executivo, viajar ao exterior era um acontecimento, mesmo em grandes empresas. Além disso viajar a trabalho era uma coisa praticamente restrita, salvo raríssimas exceções, aos executivos e diretores da empresa.
É muito engraçado lembrar hoje, que era só veicular a notícia de que você ia viajar, que lá vinham as pessoas lhe cumprimentar, isso mesmo, cumprimentar, para logo depois lhe pedir delicadamente se podia lhes trazer alguma coisa do “estrangeiro.”
Lembrando que para a época, por exemplo, comprar eletrônicos aqui era praticamente impossível.
Mas isso acontecia porque, viajar ao exterior não era comum ou banal como hoje, não havia essa tamanha facilidade.
Hoje é só você abrir o seu Instagram pela manhã que vai logo encontrar a foto de algum parente, amigo ou conhecido, em viagem por algum lugar do mundo. Hoje o nosso mundo encolheu, ele virou apenas um pequeno e estreito quintal.
Uma vez conversando com um amigo comandante da Varig, nos idos dos anos 80, ele me disse uma frase que mostra bem como as coisas mudaram:
“Para a maioria das pessoas de hoje, um voo seguro é quando o avião está no chão, mas aviões não foram feitos para ficar no chão e sim para voar. Acredite, no futuro próximo, você verá, que viajar de avião será como trocar de camisa”.
Incrível como ele já tinha a noção, naquela época, de como o mundo se tornaria pequeno.
Mas o mais interessante de tudo isso hoje, é ver como nossos filhos aprenderam rápido e com facilidade, sem qualquer apego, esse desejo de rodar o mundo.
Parece até que eles, assim que nascem, já olham pela janela da sala de parto, procurando o seu próximo destino. Só falta mesmo, nos dizerem, em alto e bom som, antes mesmo do primeiro choro: -Não me levem a mal, mas quero morar em Paris!
Já passei por essas coisas algumas vezes, primeiro quando meus filhos quiseram fazer intercâmbio, quando ainda mal tinham terminado o colégio e depois quando vi o mais novo tomar a decisão de deixar tudo para trás na carreira e seguir o sonho de viver em outro país e hoje mora em Londres.
Claro que nós sempre vamos sentir muitas saudades, sempre vamos ter aquele aperto no peito, mas por outro lado, temos hoje as redes sociais para nos dar um certo alívio e podermos falar com eles a qualquer hora, seja para conversar, como para ver a foto recém tirada de um passeio, de uma viagem, de um show de rock ou então até mesmo para aprender com eles uma receita nova “Just in time” enquanto eles cozinham do outro lado do mundo.
A comunicação é tão fácil e tão imediata que as vezes até nos esquecemos que eles estão à milhas de distância. As vezes até nos parece que ainda estão aqui, ao nosso lado, sentados no sofá.
Mas é bom que isso aconteça, faz parte do mundo globalizado e temos que trabalhar melhor esse nosso lado egoísta de pais e entender que criamos filhos para o mundo e não para permanecerem conosco, embaixo de nossas asas.
Temos que entender que as portas do mundo, estão abertas para eles e que com certeza eles terão muitas experiências de vida, bem mais cedo e bem mais intensas do que nós.
Afinal não se viaja para escapar da vida, mas para que a vida não escape de nós e é viajando que cada um de nós tem a oportunidade de criar memórias pelos quintais do mundo.
Como já disse Mario Quintana, viajar é trocar a roupa da alma, então temos que estar com nossos espíritos preparados e deixar que nossos filhos façam o seu voo livre.
José Luiz Ricchetti -28/06/2019