Querer ser absolutamente perfeito numa relação ou relacionamento é o primeiro passo para ficarmos sozinhos. Não existe uma relação próxima entre perfeição e companhia. Para sermos próximos de alguém é preciso, antes, de mais nada, negociarmos a nossa imperfeição diariamente.
Meu tio avô dizia que ‘parente é uma questão de afinidade’. O mesmo, podemos dizer em relação aos amigos e a quem queremos que venha a dividir conosco o mesmo teto. Se não houver uma afinidade nada segue em frente, nada irá dar certo.
Afinidade vem do termo latino ‘affinĭtas’ que significa sintonia, atração, simpatia, semelhança. É uma relação que desperta ajuste, igualdade, o sentimento de afeto, de carinho e amizade entre os indivíduos.
Normalmente, a afinidade é definida quando há um encontro de identidades ou personalidades semelhantes entre duas pessoas, por exemplo.
Ter afinidade é ter sintonia com as mesmas ideias, gostos e sentimentos característicos de outra pessoa. Afinidade é a base para um bom relacionamento.
O grande problema é que o fato de duas pessoas terem afinidade não quer dizer que elas sejam 100% compatíveis. Todos nós somos na verdade incompatíveis, por mais afinidade que tenhamos.
O amor é exatamente isso. Temos que nos permitir um ajuste, uma sintonia fina entre nós e aqueles com os quais temos atração.
Sintonia fina quer dizer suavidade, ou seja, precisamos ir nos ajustando levemente em relação ao outro e a nós mesmos. É preciso ir aperfeiçoando os detalhes das incompatibilidades que surgem nos relacionamentos.
O grande problema é a nossa dificuldade de entender que todos nós, seres humanos, somos sempre uma mistura do bem e do mau. Não existe ser humano perfeito.
O filósofo dinamarquês Kierkegaard no seu livro “Ou isso ou aquilo”, disse: – “Você é um ser humano e vai tomar decisões erradas a vida inteira, portanto não se repreenda por fazer as coisas que todo ser humano faz: Errar!”
Vivemos a tendência de sempre acharmos que o outro é que está errado e que ele é que tem que se adaptar. Temos o desejo intrínseco de sermos compreendidos sem que tenhamos que falar nada, o outro que simplesmente adivinhe o que se passa na nossa cabeça.
É aí que surgem os conflitos e as dificuldades nos relacionamentos.
Quando aparece uma crítica então, vem logo aquela interpretação de que todo aquele que nos aponta um erro é uma pessoa chata e inconveniente que só quer nos atacar.
O verbo criticar é sempre mal interpretado e achamos que se alguém nos critica, é porque quer nos diminuir quando, na verdade, quer apenas nos transformar numa versão melhor de nós mesmos. E se alguém quer nos transformar em uma pessoa melhor ela está agindo com amor.
Criticar é um ato de generosidade. Só quando somos caridosos e generosos com as pessoas é que passamos a conjugar corretamente o verbo amar.
Precisamos estar sempre abertos, a qualquer momento, para ter uma resposta madura para todos os desafios que as pessoas com as quais temos afinidade irão sempre nos colocar.
Fazer isso é ter a nobreza de sentimentos, é conjugar corretamente o verbo amar e podemos fazer isso, sem querer ser perfeito e sem achar que é só o outro que deve nos entender.
A perfeição pode não existir, mas se vivermos nossos dias, conjugando corretamente o verbo amar, iremos encontrar neles o minuto perfeito!
José Luiz Ricchetti – 12/08/2021