Recentemente reuni os amigos de infância em minha casa. Não são todos que tem a oportunidade de ter amigos e mantê-los durante toda uma vida, principalmente os amigos de infância.

Assim que o nosso almoço acabou e eles se foram, me sentei no alpendre ao lado da piscina e entre um bom café e uma tragada no charuto, comecei a recordar o quanto eles participaram ativamente de toda a minha infância e complementam uma coisa que prezo muito que é viver a vida com um bom rol de amigos em volta, os de ontem, os de hoje e se Deus quiser também os de amanhã.
Ter amigos e a felicidade de permanecer com eles é um privilégio que agradeço sempre e muito por isso. Tínhamos uma boa turma de amigos de infância, com certeza muito mais que 10 ou 12, sendo que os mais próximos e frequentes talvez fossem 7, para fechar com este número cabalístico.
Amigos inseparáveis, todos presentes na maioria das brincadeiras, das viagens, na troca de confidências, nos jogos de cacheta, nas cervejadas, nos bailes, nas farras, nos churrascos e nos deliciosos fins de noite, onde jogávamos conversa fora, no canto do jardim, atrás da Igreja Matriz.
Acho que tudo começou quando pequenos, na primeira sala do pré-primário da Prof. Sirte Braga ou no 1º ano da Dona Isaura Lima, embora alguns deles fossem um ano mais velho e os professores podem ter sido outros. Talvez, então, penso eu, tudo tenha começado mais cedo ainda, quando pulávamos a banda em volta do coreto, junto com nossos pais, mas não importa, éramos e somos amigos de infância.
Essa amizade continuou com as brincadeiras de mocinho e bandido, com o pega-pega no jardim, na pelada de rua, no jogo de bolinhas de gude, nas saídas com o estilingue na mão, na confecção do alçapão para pegar os passarinhos, nos banhos no rio e nos inúmeros passeios de bicicleta, pelas estradas, da escola agrícola e sua cachoeira ou então nas estradas das redondezas da cidade.
Eles foram meus amigos dos carrinhos de rolimã, da troca de gibis nas matinês no cinema velho, das coleções de álbuns de figurinhas, do jogo de bafo e das brincadeiras em volta da piscina do Tênis Clube, sob o olhar severo do velho “Seu Jorge”, tardes de natação que tinham que ser completadas, na sua saída, com a pipoca com molho, o quebra-queixo e aquela opaca geleia colorida, com gosto forte de maizena.
Amigos também nos esportes, dos primeiros treinamentos, treinos de corrida dos 100 metros e saltos em extensão, do futebol de fim de tarde, no “Campo”, treinados pelo esforçado zelador “Seu Américo”. Infância jogos de basket e volley, fazendo parte da “nata” da seleção do colégio, jogando nas cidades do interior, comandados pelo inesquecível Prof. Frossard, apoiado sempre pelos não menos especiais professores Chiquinho Rebuá, João Lima e Hélio Zeminian.
Amigos das brincadeiras dançantes, na garagem da casa de alguma das “nossas” meninas, regadas a um escondido litro de Martini doce, das danças de rosto colado, entrelaçando nossas mãos suadas, embaladas pelas batidas dos corações, selando com o primeiro beijo no rosto, ao embalo da “Nossa Canção”. Amigos das serenatas de todos os sábados, pelas ruas da cidade, visitando nossas musas e namoradas.
Amigos dos desfiles de carros alegóricos, idealizados pela incansável Prof.ª Edmeia Pegoraro, sempre muito elaborados, em todos os nossos feriados oficiais, que tinham também as apresentações da banda marcial do Colégio Agrícola e seu maestro Surita, do garboso batalhão do Tiro de Guerra TG 02-047 e seu sargento Cuiabano e da sempre improvisada, mas gostosa, fanfarra do nosso Instituto.
Amigos do primeiro fogo, no reservado do bar do Kawakami, da pizza no bar Colonial e das “brincadeiras” na Churrascaria KiBrasa, do Mauro de Oliveira. Amigos das intermináveis tardes de snooker, no bar da Patota, de escutar os novos discos na Casa Ricchetti, dos grandes bailes com orquestras, no clube Recreativo, das sessões no cinema novo, de terno e gravata, para “ficar de mãos dadas” com as meninas, no escurinho da plateia, enquanto os mais velhos se beijavam no “Pulmam” com suas cadeiras reclinadas, chupando bala “Pipper”.
Amigos das visitas às fazendas dos Pupo, Miranda, Barros e outras tantas, para paquerar as meninas “de fora”, que vinham passar férias em nossa cidade. Amigos das inúmeras férias, no sítio Santo Antonio, do tio e amigão Walter Carrer, as vezes também misturados com as amigas de uma geração mais velha. Amigos dos passeios a cavalo, dos banhos no lago da cachoeira, das caçadas com rifle 22” e da inesquecível pinga com groselha no bar do Guarantã.
Amigos da primeira viagem solo, das férias que apelidamos de “quem procura acha”, conhecendo Brasília a jovem e famosa capital federal, depois de uma maratona de horas alternando ônibus e trem, hospedados em apartamento funcional da alta burocracia do governo federal. Viagem que teve grandes aventuras no Aero Willys Itamarati prata do “tio” Laércio, na verdade tio do nosso amigo Natão, visitando as obras e a famosa cidade de Lúcio Costa e Niemeyer, o famoso Clube das Nações, sem falar na nossa primeira visita à vila das moças de vida fácil.
Amigos das escapadas para o clube Água Nova, com o Fordão do Zezão “emprestado” do pai, de pescar e nadar na represa, das madrugadas frias, regadas a quentão, enfeitando as ruas na véspera de Corpus Christi, dos blocos e bailes de carnaval com marchinhas, lança perfume, confete e serpentina. Amigos desse tempo bom de curtir nossa primeira namorada e de dar o primeiro beijo, no banco do jardim da Igreja.
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Ainda no meio dessas boas lembranças meu celular toca e ouço a voz de um deles, lá de longe da Itália, onde mora hoje.
Conversamos, e no final ele me pergunta:
– E aí, quando vamos nos encontrar de novo?
Dou mais uma boa baforada no meu charuto, pigarreio e lhe respondo:
– “Presto Amico”! Então ele contente me diz, do outro lado da linha:
– OK, me avisa e manda um grande abraço a todos! “Ciao”!
– “Ciao Amico”!
Desligo, relembro, por alguns momentos de mais algumas passagens que vivemos juntos e aí imediatamente me vem à mente, uma frase de Charles Chaplin que diz assim:
Durante a nossa vida, conhecemos pessoas que vêm e que ficam.
Outras que vêm e passam.
Existem aquelas que, vêm, ficam e depois de algum tempo se vão.
Mas existem aquelas que vêm e se vão com uma enorme vontade de ficar…

SOBRE O AUTOR:
José Luiz Ricchetti, nascido em São Manuel, é oriundo de famílias das mais tradicionais da cidade como Ricchetti, Ricci e Silva, é casado e tem 3 filhos. Engenheiro Mecânico pela Escola de Engenharia Industrial – EEI, com pós-graduação na FGV em Administração de Empresas e Comércio Exterior, tem MBA na área de Gestão de TI e Telecom pelo INATEL-UCAM, tendo atuado por mais de 35 anos, como executivo de grandes empresas brasileiras e multinacionais no Brasil e no Exterior.